A princípio
eu pensei, sem pensar, que seria só mais uma mudança. Mas naquela madrugada, em
uma incomum visita noturna ao piso inferior, fui revendo cenas da minha
história naquela casa que eu pensava, sem pensar, que não era minha. Mas era,
claro que era.
Foi lá que
eu encontrei pela sengunda vez – veja bem, segunda
vez – com o Paulo Cesar, meu amor, meu companheiro por mais de onze anos. Foi lá
que eu conheci sua família e fui me integrando a ela, e mesmo com todas as
nossas diferenças, passei a fazer parte
dela.
Foi naquele
quintal que fizemos um mosaico muito tosco, mas altamente significativo, que
sempre ornou as cabeceiras das nossas camas. Quintal que presenciou o anúncio
do nosso casamento, seguido por abraços e lágrimas de quem achava que a causa
estava perdida.
Conforme eu
ia andando pela sala enorme e já um tanto bagunçada pela iminente mudança, iam surgindo
as cenas das festas, das crianças aparecendo e crescendo, das conversas e
sonecas pós-almoço, das vezes em que eu e o Paulo Cesar chegamos tarde e fomos
xeretar na cozinha e usufruir do sofá reclinável com televisão enorme e cheia de
canais.
Recordei a
sala de jantar antes da reforma e fui lembrando dos animados banquetes que ela
já presenciou. Não precisava muito, só a família já é cuorum pra festa, mas
mesmo assim sempre tinha um amigo, um primo, uma visita.
Fui subindo
as escadas e parei no quarto que foi da Carol, onde eu e o Paulo Cesar dormimos
juntos pela primeira vez. Esse foi um grande passo! Mas não confunda, quando digo
dormir junto, estou querendo dizer dormir junto mesmo, literalmente. Até então
eu ficava no quarto de hóspedes, mas teve uma hora que a sogrinha deve ter
desistido de esperar o casório e, num ato inesperado, liberou geral! Não
lembro quando foi, mas levou alguns anos...
E no quarto
onde estávamos dormindo hoje também fui lembrando das vezes que o dividi com a
Valéria, pois aquele era o quarto das moças, enquanto os moços repousavam no
quarto em frente.
Isso foi
quando todo mundo morava lá. Todo mundo quer dizer, é claro, pais e filhos. Embora
tenha havido primos moradores e as namoradas, moradoras de final de semana. E então
um saiu pra estudar, outro saiu pra casar. A moça da família foi atrás de fazer
seu caminho.
A casa foi
mudando de cara, mas chegou uma hora em que realmente ficou grande demais. E cá
estou eu, encaixotando cristais e memórias, dando minha contribuição para o
encerramento desta Era, que invariavelmente prenuncia o início de outra.
Mudar é
preciso. Revolver velhos baús, espanar a poeira, jogar fora a tralha, permitir
que o novo brote. O antigo tem história, tem valor sentimental, mas o novo é
novo! O novo é possibilidade, o novo é esperança! E o novo vai virar antigo,
vai ter sua história e assim vamos compondo o mosaico da nossa vida.
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