
[
Conde: é um título nobiliárquico existente em muitas monarquias, sendo imediatamente superior a visconde e inferior a marquês. Inicialmente, na Idade Média, era o senhor feudal, dono de um ou mais castelos e de terras denominadas condado, mas posteriormente, a partir do século XIV, o título nobiliárquico foi utilizado apenas como grau de nobreza (fonte: Wikipédia)]
Os títulos de nobreza me lembram a Idade Média e também o início da colonização do Brasil, lembraças essas que confirmo na definição de Conde da Wikipédia. E o que esses períodos históricos tem em comum? No meu entendimento leigo, de quem estudou isso na oitava série do primeiro grau (veja só que "antigo", pois hoje essa classificação nem existe mais!), esses períodos, como tantos da história - se não todos! - foram marcados por uma grande exploração do ser humano pelo... leão? Pelas baleias?! Pelos extraterrestres?!?! Não... pelo próprio ser humano... claro, quem mais iria nos explorar, se somos o topo da cadeia alimentar? Quem mais iria nos explorar, se somos o único ser do planeta dotado de "telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor"?
E haja telencéfalo altamente desenvolvido pra entender isso... eu lembro que quando li "O Mundo de Sofia" fiquei chocada ao me dar conta de que aqueles filósofos ilustres só puderam filosofar à vontade porque tinham escravos cuidando das coisas "mundanas". Pelo menos naquela época os que não estavam fazendo trabalho braçal faziam algum trabalho intelectual que valesse a pena... ah, deixa pra lá... estou meio ranzinza hoje!
De qualquer forma, eu acho que muitos seres humanos estão sendo "desperdiçados". Não creio que uma pessoa tenha "mais potencial" do que outra... a plenitude do ser humano pode (e deve) ser expressa por qualquer ser humano! Será que precisamos mesmo sacrificar indivíduos em benefício da espécie? Isso é para plantas e animais, não para gente.
Tudo isso porque a estratégia de marketing de um condomínio me atingiu profundamente. Imagina que eles usaram postes humanos para pendurar suas plaquinhas: Campos do Conde. Não foi uma "performance", nem uma intervenção artística. Durante todo o fim de semana algumas pessoas ficaram em pé, debaixo de um sol escaldante, com uma placa pendurada no pescoço indicando a direção do tal condomínio. Fiquei pasma. Estou exagerando? Perdi a medida das coisas?
Mas já que estamos falando de condomínios, não poderia deixar de declarar aqui a minha aversão por essa febre urbanística. Condomínios e shopping centers são a declaração de falência das cidades. As pessoas se trancam atrás de muros protegidos por câmeras e cercas elétricas e constroem lá dentro um mundo ilusório onde tudo é bonito, limpo e seguro. Saem em seus carros blindados, entram em edifícios espelhados, respiram ar condicionado, entram no shopping, não veem a luz do sol e comem comida de plástico (nossa, eu estou muito ranzinza)!
Claro que a vida em condomínio é uma saída (pseudo-saída) para o caos que as cidades estão virando, sob más administrações e falta de cidadania. Eu mesma alimento um sonho nada secreto de morar em uma ecovila que, em última análise, é um condomínio natureba*, rs... não quero julgar e está longe de mim propor uma saída, mas às vezes o simples fato de apontar o problema pode ajudar alguém a encontrar uma solução. E não custa nada dizer que quem compra um lote em um condomínio que utiliza pessoas para pendurar suas placas está assinando embaixo, está de acordo com esse desrespeito ao ser humano. Os outros contras e prós de condomínio nem vem ao caso nesse caso.
Precisamos estar muito atentos ao impacto das nossas decisões no mundo. Precisamos estar atentos aos exemplos que damos. Precisamos afinar discurso e prática. Precisamos ser coerentes. Pode parecer simples, mas não é. Demanda atenção constante e integridade. É um exercício interessante.
*nota sobre ecovilas: que os companheiros não se melindrem pela tosca comparação das ecovilas com os condomínios. Em uma sociedade "ideal" as ecovilas não seriam necessárias, porque o campo seria dividido de forma justa, as relações entre vizinhos seriam harmoniosas, as cidades seriam pequenas e a maior parte da população viveria na zona rural, que teria boas escolas, boas estradas, boa comunicação. Aqueles que vivessem nas cidades andariam a pé e teriam grandes quintais. O mundo seria uma grande ecovila! Mas a justificativa de não estarmos em um "mundo ideal" não cabe aos condomínios, simplesmente porque eles não fazem o menor esforço para construir esse mundo, coisa que as ecovilas fazem.