terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Eu comigo e sem você

Hoje é terça e terça é dia de Aralume! Vou dar um tempo nos relatos de viagem, fazendo também um intervalo entre a parte que fiz com o PC, a Thássia e o Lelo e a parte que fiquei por minha conta (duas semanas cada). Ainda há muito o que relatar e o que escrevo agora é claro que foi desencadeado pela viagem, mas vou me ater apenas a um aspectro mais sutil...

Frequentemente tenho meus sentimentos traduzidos por canções. Nesses momentos sempre lembro do Milton Nascimento dizendo "certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: como não fui eu que fiz?!". Recolho-me à minha insignificância e nem chego a me perguntar "como não fui eu que fiz", rs... mas que elas cabem tão dentro de mim, ah, isso cabem!

E mais um episódio desse se passou no fim de semana, quando eu estava no alto da montanha mais alta das ilhas do Lago Titicaca. Montanha que leva o nome da "mãe natureza", Pachamama.

Faz um tempo escrevi um texto aqui no Aralume, dizendo que se eu pudesse ter só um artista no meu iPod, esse artista seria o Gilberto Gil (relembre aqui). Mas se a situação hipotética fosse ainda mais cruel e me fosse permitido ter apenas um disco no iPod, esse disco não seria do Gil, mas sim o "Elis & Tom"! Segundo o Mr. Google, o álbum foi lançado em 1974 e é considerado um dos mais importantes da Música Popular Brasileira.

Sou fascinada por esse disco, que une gênios como Tom, Vinícius e Chico, na voz e interpretação arrepiantes da Elis, acompanhada por músicos de tirar o chapéu. São 14 músicas, iniciando com a imortal Águas de Março, seguindo por desilusões amorosas e reencontros felizes.

Claro que as músicas que falam das desilusões amorosas são as mais lindas, as mais profundas, as mais contundentes... e eu, que nunca tive desilusões amorosas, quase tenho vontade de ter, só pra poder curtir uma fossa ao som de "Pois é" e "Retrato em Branco e Preto".

Mas esse fim de semana me deparei com um jeito de curtir uma fossa ao som de "Elis & Tom", sem precisar de nenhuma desilusão amorosa... e é esse episódio que quero contar.

Imagine-me fazendo minha primeira viagem solitária, pelas ilhas do Lago Titicaca. Éramos um grupo de 16 turistas, dos mais variados países (felizmente mais nenhum brasileiro, pra eu não incorrer na tentação de ficar falando português!). Um guia muito simpático, dia de sol, comida boa, recepção fraterna por uma família local.

O pernoite foi na Ilha Amantaní, onde fica o ponto mais alto das ilhas do Lago Titicaca, a montanha Pachamama, e o programa mais especial do tour era subir nessa montanha para ver o por do sol.

Lá fomos nós, por uma caminhada linda e agradável, embora sempre acima dos 4.000 m de altitude, culminando em 4.200 m. As luzes e cores do fim do dia eram realmente lindas. Até que me enturmei bem no grupo, que tinha uma colombiana e um casal de argentinos, muito simpáticos, mas preferi fazer o caminho mais sozinha, mesmo porque não dá pra ficar tagarelando nesse tipo de empreitada morro acima com oxigênio escasso.

Estava muito gostoso caminhar sozinha com meus pensamentos - eles geralmente me agradam :)

Até que chegamos ao cume, que tem, obviamente, uma vista arrebatadora do lago e as montanhas que o envolvem. Uma imensidão, muita água, o sol "pertinho".

E sabe o que aconteceu nesse momento?! Surge a Elis e despeja sobre a minha cabeça, simplesmente e sem nenhum aviso prévio, "Inútil Paisagem".

Meu corpo foi tomado por essa música de um jeito, que eu não consegui nem tirar uma foto, tamanha era a "inutilidade" daquela paisagem...

Segue a letra pra você relembrar, mas se tiver 3'39'' sobrando, me faça um favor: ouça a música! Se não tiver aí no iPod ou CDteca, gaste uns segundinhos a mais e busque no You Tube.

E assim a viagem me brinda com mais uma experiência inédita, essa sem planejamento prévio: curtir uma fossa ao som de "Elis & Tom".

Mas pra que
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra que
De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem
Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais
De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada

É nada
É nada

Um comentário:

  1. Oh minha Linda da Vida! Saiba que você nunca estará realmente sozinha, no sentido de que tem sempre essa pessoa que te amo muito e que está se torcendo para tudo de melhor acontecer no seu (nosso) caminho.... Te amo muito, cada vez mais (melhor). Beijos!!

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