sábado, 24 de outubro de 2020

sobre ir à luta...


Um amigo xamã me disse que na visão dos povos indígenas que ele estuda, a Primavera é o tempo do Guerreiro. É tempo de fazer o que precisa ser feito, é tempo de novos começos, de desbravar, de parar de inventar desculpas, se encher de coragem e ir à luta.

Venho então refletindo sobre as minhas batalhas, as que já lutei, as que venho lutando e as que se anunciam no horizonte.

E hoje me veio uma percepção... as batalhas não precisam necessariamente ser "épicas". Quero dizer, épicas aos olhos dos outros. Quantas batalhas internas você já não travou? Quantas derrotas e quantas vitórias que ninguém nem ficou sabendo, ou no máximo aqueles com quem você convive muito, muito de perto.

Às vezes fico com a sensação de que pra uma vitória ser legitimada, ela precisa ser vivida num palco - ou numa arena. Fica essa impressão de que, "se a galera não viu, não existiu"... ou, pior: não valeu. Penso nessa cultura de cada vez mais exposição, a "sociedade do espetáculo", essa vida de rede social, e vejo que por mais que muitas vezes eu me afirme "superior a isso tudo", tem algo que permeia, de forma quase que imperceptível, meus pensamentos e sentimentos. Eu hein...

Junto com essa percepção das batalhas internas, veio outra interessante também... que muitas vezes a grande batalha é justamente evitar a batalha (!). Algo assim: se minha vida vem se desenrolando sem grandes sobressaltos, é possível que eu esteja fazendo de fato um ótimo trabalho, e não "acomodada na minha zona de conforto", como muitas vezes essa tal "sociedade do espetáculo" nos acusa.

E aí, como saber?! Como saber se você está acomodado, fugindo à luta, ou lutando bravamente, mesmo que de forma silenciosa e invisível, para ser fiel à sua essência e ao que VOCÊ acredita ser o certo a fazer - ou NÃO fazer?

Conhecendo-se!

E conhecendo também histórias de outras pessoas... cultivando a tal da empatia, gerando acervos de experiências, mesmo que seja através de livros, séries, filmes, podcasts.

Não existe receita, não existe "caminho certo" a não ser aquele que é só seu. E só você para descobri-lo, passo a passo.

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Na foto, em 2012, na Turquia, numa viagem com minha mãe e minha irmã, com Joaquim na barriga e sem ninguém mais saber... a minha melhor definição de "batalha interna", rs... eu, na plateia (vazia), o palco em obras, não há nenhum espetáculo para ver... a não ser o que acontece dentro de mim. Essa "legenda" só apareceu depois que escrevi o texto. Escolhi essa foto antes de escrever, porque me deparei com ela ontem, por motivos outros, e queria apenas uma foto bonita e especial pra ilustrar (!)



quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Televisão




A televisão sempre teve sua presença e seu lugar nas minhas casas, quando criança e depois, mas sempre uma presença discreta e um lugar de "mantenha-se no seu lugar". Naturalmente. Não lembro de grandes crises com relação a televisão na infância, nem na adolescência. Tenho memórias de fases da minha vida ilustradas por programas de televisão. Lanterna Mágica, Pantanal, Rá-, Tim, Bum, X-Tudo, Mundo da Lua, Castelo Rá-Tim-Bom, Confissões de Adolescente, Vestibulando, Metrópolis, Programa Legal, Vídeo Show, Malhação, Sinhá Moça, Senhora do Destino, Globo Repórter, Fantástico, Pantanal (de novo)... não quero nem voltar a ver nada disso (já tentei, e por isso afirmo: não quero), porque não quero macular essas memórias, todas deliciosas.

Aí vem a fase cabeção, sem TV, achando TV a coisa mais fútil e alienante do mundo. Muitos livros, muitos livros, muitos livros. Teatro, cinema. Cinema europeu, claro, rs... exceções pra Woody Allen e Tarantino, afinal, né... Memórias deliciosas também.

Papo vai, papo vem, acabei conhecendo a antroposofia, pois meu orientador do mestrado estava super envolvido com a escola Waldorf da filha pequena. Aí lacrô! Morte à TV!!!

Quando meu marido e eu estávamos na fase de fazer os acordos de como seria a vida com filhos (sim, sou dessas e faz tempo!), abolir definitivamente a TV de casa era condição inegociável. Veio o filho, foi-se a TV.

O filho cresceu, eu pisquei, e quando vi a criança já assistia vídeos no celular, iPad, computador. Veio o segundo filho, e começou a assistir telas bem mais novo do que o primeiro.

Aí veio a pandemia... ah, a pandemia! Sem escola. SEM ES-CO-LA-A-A-A!!! Os desenhos animados tornaram-se mais frequentes, e justo no momento que as crianças estavam quietas, sem me pedir nada, eu ficava sem meu computador, pois era ali que eles assistiam.

Resolvemos então comprar uma TV.

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[pausa dramática]

Se você tem e sempre teve TV em casa pode não estar entendendo meu drama, mas, acredite, não foi fácil admitir que eu realmente queria uma TV em casa.

E assim foi.

Compramos um bela TV, grandona, com imagem espetacular. As crianças amaram... e eu também!

Pra estrear o novo aparelho, eu e o marido começamos a assistir Outlander e o programa 'colocar crianças na cama e correr pra assistir "nossa novelinha" ' tornou-se cada vez mais delicioso. Antes da TV frequentemente cada um ia pro seu canto (e pra sua tela), depois das crianças dormirem. Agora, com a TV, temos um compromisso juntos, assistimos juntos, comentamos, damos risada (assistimos Modern Family também, rs...), vamos pra cama juntos...

Eu realmente não esperava que a televisão pudesse nos trazer tempos de tanta qualidade (!). Além da óbvia qualidade ergonômica (porque nunca deixamos de assistir umas coisinhas... na tela do celular, segurando iPad, com computador em cima da cama...), mas também a qualidade de tempo juntos, de ter um momento de lazer compartilhado entre o casal e sem crianças, tão raro nesses tempos de distanciamento social, com poucas ajudas pra segurar a onda com os pequenos.

Viva a TV!