segunda-feira, 6 de julho de 2020

depois da tempestade...


... vem a bonança - diz o ditado.

e depois vem tempestade de novo, e depois mais bonança... e cada uma é de um jeito, tem sua intensidade, sua duração e suas novidades.

a vida é cíclica

e cada ciclo é único

--- se você tem alguma familiaridade com a vida cíclica da fisiologia feminina, vai entender o que vou falar a seguir... e se não tem, pode me perguntar que vou adorar dizer o que tenho conhecido e percebido desse tema ---

nesse meu ciclo [menstrual] aconteceu algo inédito - ou pelo menos inédito segundo essa ótica de percepção. Aconteceu que vivenciei uma TPM em plena fase pré-ovulatória (!!!). Explico: lá estava eu em minha habitual, cíclica e perfeitamente saudável fase pré-menstrual, que traz grandes desafios, principalmente pelo fato de que culturalmente não estamos muito dispostos a olhar e lidar com sombras (pra resumir... como disse acima, falo aqui pra quem já caminhou um pouco nessas terminologias e simbolismos... não porque eu queira restringir "meu público", mas porque se for escrever sobre todos os detalhes não chego onde quero relatar). Enfim, vivenciei minha TPM e eis que chega a menstruação, ah, que alívio! O corpo, a natureza, ajudando a colocar os limites, como que dizendo "ok, agora chega! Hora de mudar o foco".

E como habitual, lá pelo dia #3 eu estava me sentindo plena, disposta, usando as lentes de arco-íris que tanto gosto - e a cultura também, então fica fácil a vida, né?! Aí uma voz me sopra no ouvido "aproveita a disposição e trabalha!". Essa voz é da minha terapeuta, que numa sessão já longínqua me disse que os desafios da TPM são para serem trabalhados ao longo do ciclo, porque senão de fato fica uma sobrecarga impossível de administrar, uma avalanche num curto espaço de tempo, e a gente fica soterrada.

Respirei fundo, arregacei as mangas, prendi o cabelo, e lá fui eu. Revisei as pendências do ciclo anterior, revisitei os temas, li e escrevi, estudei de verdade. E aconteceu o que acontece quando a gente "cutuca" algo: a energia se movimenta, as peças se rearranjam e todo o sistema muda, responde, reage. E aconteceu o que acontece quando a gente não está acostumado, habituado, treinado, a lidar com o que vem, com o inesperado, com a ausência de controle e garantia: BUG. Eu não sei e não vou pesquisar agora qual é exatamente o significado dessa palavra, que acho que vem da computação, mas o que quero dizer é que dá uma pane, uma travada. E aí, seguindo essa minha descrição de ações e reações, quando a gente trava, tensiona, endurece, todos os fluxos se comprometem, a energia fica estagnada em algum ponto, e quanto maior a energia, maiores as chances da barragem se romper e descer aquela água violenta levando tudo que estiver no caminho - e às margens dele!

Reconheço - a meu favor - que em minha trajetória de autoestudo tenho investido esforços em suavizar as barragens. Tudo o que quero é deixar fluir, então minhas barragens realmente não estão lá essas coisas... e por outro lado, tenho investido esforços também em amplificar minha energia, em me conectar com forças acima, abaixo, aos lados, em todas as direções e dimensões. Tá entendendo né?

Fui inocentemente fazer uma lição de casa, e quando me dei conta estava no meio de uma "tromba d´água". Passou. Entre mortos e feridos salvaram-se todos. Veio a bonança. E o que essa bonança me mostra? Ela me mostra, com fundo de céu azul, árvores derrubadas, galhos quebrados, pedras que rolaram. Ela me mostra, no frescor da manhã, teias de aranha que reluzem cobertas por gotículas. Ela me revela, junto com o agradável cheiro da terra molhada, o trabalho dos inúmeros seres decompositores e toda a matéria orgânica em decomposição.

E consigo acessar todas essas imagens porque já estive de fato em uma tromba d´água, porque já caminhei de verdade em uma floresta e vi clareiras recém abertas por enormes árvores que caíram, porque já revolvi o chão de folhas e galhos úmidos e senti com as minhas mãos a terra se transformando.

"É de manhã/ Vem o sol mais os pingos da chuva que ontem caiu/ Ainda estão a brilhar/ Ainda estão a cantar/ Ao vento alegre que me faz esta canção..." *


A natureza e a arte como bálsamos para as tempestades internas.

E conectando tudo isso, as relações, as parcerias, os espelhos que nos são aqueles seres humanos que se achegam pra compor essa dança.

Mas pra encerrar a história - ou pelo menos esse capítulo dela - quando passou essa minha tempestade e me vi em meio à bonança, lembrei de uma conversa com um amigo, desses que parecem anjos da guarda disfarçados. Na ocasião ele me deu uma percepção de que nosso desenvolvimento seria como engrenagens ascendentes. Cada roda fica girando, ora você está em cima, ora embaixo, e que o grande "pulo do gato" é, estando no topo, pular pra roda acima! A consequência é que você chega nessa outra roda "por baixo"... mas quando subir, vai subir de verdade, e não apenas ficar dando voltas sem sair do lugar.

Esse fenômeno acabou de acontecer comigo!

Uhuuuuuu

=D


* essa referência faço questão de deixar: essa música ecoa em meus ouvidos na divina voz de Milton Nascimento... mas ao pesquisar descobri que trata-se de uma parceria entre Dolores Duran e Tom Jobim. A letra, que me fala ao coração, é dela, e foi um enorme presente conhecer um pouca da história dessa mulher
"ela foi uma compositora e cantora que como poucas tratou das dores de amor e da solidão" Aqui o link onde essa história é contada lindamente.