terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Bolívia & Peru - Diário de Bordo: Ep. 5 - Inferno, purgatório e paraíso: esse é o caminho de Uyuni para a Isla del Sol

Depois de muitas, mas muitas horas de estrada, chegamos em La Paz e pulamos dentro de outro ônibus, rumo a Copacabana, cidade boliviana que fica na margem do Lago Titicaca.

Mais quatro horas de um ônibus bastante desconfortável, com direito a uma travessia de balsa, chegamos em Copacabana! O caminho é muito bonito, uma paisagem bem rural, as onipresentes casas de adobe e conforme vai chegando mais perto de Copacabana o relevo faz com que apareçam os terraços agrícolas, muito bonitos!

O caminho me fez lembrar a costa do Mediterrâneo... aquelas montanhas íngremes e o marzão azul lá embaixo... (ok, era lago, não era mar, e eu nunca cheguei nem perto do Mediterrâneo, mas já assisti muito filme, tá?!). A trilha sonora proporcionada pelo meu fiel escudeiro ajuda nos devaneios (oba, fazia tempo que meu iPod estava anônimo... agora acabou se ser batizado de Sancho!).

Chegamos em Copacabana e fomos direto pro porto ver que horas teria barco. Tinha um praticamente à nossa espera, pois estava quase lotado (ou totalmente lotado, depende do ponto de vista) e foi só embarcarmos para que ele saísse. Lembre-se que nessa correria toda nossa última refeição foi por volta das 19h do dia anterior em Uyuni... e já era umas 2h da tarde quando entramos no barco!

Prevenidos que somos, tínhamos umas batatinhas Pringles e uns chocolates, mas pra lanche da noite, café da manhã e almoço, já tinha extrapolado nossos limites da fome. Foram mais quase duas horas de barco, nas quais eu, o Lelo e a Thássia ficamos na "cobertura", filosofando sobre o ano que passou e o vindouro, e o PC ficou escondidinho do sol (fazia sol!!!) conversando com um argentino que adora música brasileira e até conhece o Um Que Tenha (se você não conhece e gosta de música brasileira, tá perdendo tempo!).

Na paisagem muito bonita e imensa do lago (que tinha até um cheiro de mar e ouvimos uma lenda de que a água do lago seria salgada, mas pura lenda, segundo a Wikipedia - claro que eu não fui lá provar pra ver se era doce ou salgada, né?!), uma das coisas que chamou a minha atenção foi a presença de eucaliptos nas encostas e ilhotas, principalmente porque era a única espécie de árvore... é uma praga mesmo pra crescer naquelas condições edafoclimáticas (nossa, fazia tempo que não usava esse termo, hehe).

Ao desembarcar na ilha tínhamos a opção de pagar algumas moedas e colocar as mochilas nuns burricos, porque tem uma subida fenomenal até o vilarejo. Mas como tudo era treinamento pra Trilha Inca, encaramos a escadaria, com algumas paradas estratégicas, porque é punk mesmo! Ah, os burrinhos de lá são a coisa mais fofa do mundo, pequenos e peludinhos, umas graças.

Tínhamos reservado o Hostel Inka Pacha, associado à HI, mas chegando lá não havia reserva... o pessoal do Hostel foi meio ríspido, mas até arrumou uns quartos pra gente, só que nesse meio tempo eu vi um Hostel quase do lado desse, com uns quartos com uma vista alucinante do lago e era mais barato! Só cometi um erro imperdoável que foi não anotar o nome... o preço foi Bs 160,00 por quarto de casal. O único problema, "pequeno" detalhe, é que acabei tomando banho frio, porque o chuveiro só quebrava o gelo de um fio de água e eu precisava desesperadamente lavar o cabelo (se você leu os episódios anteriores sabe porque), então tomei coragem e abri a torneira ao máximo pro sofrimento acabar logo!

Aqui tivemos nosso primeiro incidente de viagem: a Thássia torceu o tornozelo. Não foi nada grave e no dia seguinte ela já estava boa, mas acabou ficando de molho e não pôde fazer a trilha até o mirante :( Realmente tem que tomar muito cuidado, porque os caminhos são umas escadas de pedra completamente irregulares.

Bem, nessas horas a solidariedade viajante toma uma outra ótica/outra ética e eu e o PC fomos pra trilha. O Lelo, fiel companheiro como há muito eu não via, ficou com a Thássia.

Já estava bem no fim da tarde e não dava tempo para coisas supérfluas como, por exemplo, comer. O essencial foi o banho e saímos correndo ladeira acima (e haja ladeira! Pensamos que estávamos na parte mais alta da ilha, má quê? Ledo engano...).

Que lugar en-can-ta-dor!!! E com a luz do fim de tarde então... aqueles burrinhos peludos pra lá e pra cá, carneiros, alpacas, porquinhos, os cachorros mais fofos (aqui cruzamento com alpaca, tenho certeza!), as crianças... só bichinhos encantadores =D A ilha é também muito florida. Cada cantinho tem um "pé de flor"!

Tudo é lindo e fofo, mas a paisagem dos terraços é algo muito emocionante para pessoas como eu e o PC, amantes da agricultura orgânica, da permacultura e das boas práticas rurais. Se eu fosse agrônoma ia querer fazer um estágio naquela ilha! É muito bonito ver como a agricultura e a "natureza selvagem" convivem harmoniosamente. As plantações formam verdadeiros jardins, muito bem cuidados, onde as plantas silvestres vão convivendo com as batatas, quinuas e algumas hortaliças (deve ter muitas outras coisas, mas realmente não tivemos tempo para investigar a fundo).

Fomos até o "mirador", de onde se tem uma visão espetacular da ilha, do lago, do céu e das montanhas nevadas que margeiam o lago. Tivemos a visão também de uma chuva imponente na direção de onde vinha o vento, ou seja, pernas pra que te quero ladeiras abaixo!

Chegamos no Hostel com os pingos nos nossos calcanhares e foi o tempo de chamarmos a Thássia e o Lelo e entrarmos no restaurante do Hostel, para desabar uma chuvona, que na verdade não sei se era mais água ou vento, mas fez um certo estardalhaço!

Comemos e desmaiamos sob o enorme peso dos cobertores de lã de alguma coisa do tipo lhama, alpaca ou ovelha.

O dia seguinte amanheceu daquele jeito cinza e chuvoso que nenhum viajante trilheiro gosta... tínhamos planejado ir embora um pouco mais tarde, para aproveitar melhor a ilha, mas com aquela chuva não ia ter como... nos apressamos em arrumar as mochilas e descemos a escadaria sem nem mesmo tomar café da manhã (de novo!!!).

Mais um treinamento para a Trilha Inca, agora no quesito "testar os impermeáveis". Descobri que minha "calça de motoqueiro" é curta e que preciso comprar polainas. De resto, tranquilo.

Desayunamos em Copacabana e seguimos a via sacra rumo a La Paz, sonhando com o Hotel LP Columbus, um banho verdadeiramente quente, uma cama grande com edredon leve e quente e outras pequenas mordomias que não fazem mal a ninguém!

É dia 31/12 e teve direito a banho com sal de Uyuni, creminhos e roupa limpa! Saímos para jantar e comemos uma lentilha no vegetariano Tierra Sana. A ideia original era ir numa balada de ano novo, mas a Thássia e o Lelo bodearam e eu confesso que declinei da intenção ao pensar que meus cabelinhos, tão cheirosos, iriam ficar impregnados de fumaça gringa, uma vez que esse povo fuma em tudo quanto é lugar!

Eu e o PC ainda demos uma última andada pelas ruas de La Paz, chegamos e ir em um bar que tinha uma descrição interessante, mas estava fechado... bem que tentamos... voltamos ao hotel e comemoramos a passagem de ano na cama ;)

Encerrando a parte boliviana da viagem, fiquei com muita vontade de voltar na Isla del Sol e passar pelo menos uns 3 dias. É viável, pois não é muito longe de La Paz. Agora, Uyuni e arredores fazem parte de pouquíssimos lugares que eu estive na vida, gostei muito, mas não pretendo voltar!

De forma geral, posso resumir nossa estada na Bolívia como um contraste entre o muito feio e o indescritivelmente lindo!

Não precisa nem dizer que o indescritivelmente lindo vale o "muito feio" e todos os desconfortos necessários...

Nenhum comentário:

Postar um comentário