terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Carta aberta ao DeRose

Querido Mestre,

Estive viajando por um mês, desde o Natal, e só na semana passada peguei a correspondência... que surpresa deliciosa ver sua carta! Obrigada pelo carinho!

Essa viagem, por lugares incríveis da Bolívia e do Perú, está descrita em detalhes aqui no Aralume e as fotos de cada episódio estão no meu perfil do Facebook. É muita coisa, não sei se você terá tempo de ver tudo, mas o texto que falo sobre a experiência na Trilha Inca (veja aqui) tem alusões diretas ao SwáSthya, talvez você se interesse...

Ainda sobre a viagem, ela foi pensada e planejada para ser um marco de um momento importante de transição da minha vida. Cumpriu exatamente sua função, com experiências riquíssimas, e é sobre esse momento de transição que eu queria falar com você.

A notícia é que estou deixando de trabalhar com o Método DeRose para voltar a me dedicar à minha profissão anterior, que é a engenharia florestal. Por todo apoio, carinho e confiança que recebi enquanto estava "nos seus braços", sinto-me na obrigação de dar algumas explicações. Não uma "obrigação chata", mas uma vontade sincera de expor os motivos que me levaram à decisão de trabalhar com o Método e de deixar de trabalhar com ele.

Como sei que esses motivos me serão cobrados por muita gente, preferi fazer essa carta aberta, dirigida a você, dirigida à pessoa com a qual eu mais sinto essa necessidade de conversar e explicar, mas que ao mesmo tempo sirva para que as pessoas que me cercam possam saber o que se passa nessa minha cabecinha, que pode até parecer confusa, mas que nunca esteve tão lúcida, graças ao trabalho que temos realizado desde que fiz minha primeira prática de SwáSthya.

Ah, sim, não poderia deixar de mencionar que outra pessoa à qual "devo explicações" é a Carla Mader, minha monitora, com quem já conversei muito e a quem devo também gratidão eterna. Se nesse tempo eu estava nos seus braços, estava de mãos dadas com ela!

Bem, quando conheci o SwáSthya, há quatro anos, foi amor à primeira vista! Comecei em uma academia, mas nunca gostei desse ambiente, então assim que soube que tinha uma escola especializada fui correndo conhecer. Se o amor ao SwáSthya tinha sido à primeira vista, o que dizer daquela escola?! Que lugar lindo, que recepção amorosa, que vontade de "ficar ali pra sempre"!

Cheguei até a pesquisar outros lugares com aula de yôga, mas não demorou nada pra eu perceber que o SwáSthya era realmente outra coisa e que o Método DeRose mais ainda. Marquei aulas experimentais, mas nem cheguei a ir... minha decisão já estava tomada fazia tempo. A diferença de preço (gritante) era mais um fator que colocava aquele trabalho em outro patamar, de seriedade e profissionalismo.

Outra coisa que me cativou demais foi o clima de escola. Quando soube que tinha uma biblioteca fiquei doida, queria ler tudo! Lembro da Carla dizendo "nossa, não sei quando foi a última vez que um aluno iniciante pegou um livro". Comecei, por sugestão dela, pelo Mitos (que foi reeditado com o título Quando é Preciso Ser Forte) e a leitura fluiu como uma conversa! Parecia que já éramos grandes amigos e aquele foi o meu primeiro "contato pessoal" com você... é estranho dizer isso, mas foi assim que eu senti... parecia que você estava contando pra mim a sua vida!

Entrei na escola em março, fui mergulhando na prática e lendo bastante, buscando entender onde eu estava e como seria aquele caminho. Não demorou para eu "descobrir" que a filosofia recomenda que não se consuma carnes e drogas (de qualquer tipo, inclusive álcool). Se esse era um requisito para vivenciar aquela experiência fantástica com mais profundidade, ok, eu topava o desafio! Em algum dia de junho, decidi que aquelas substâncias não entrariam mais em meu corpo. E assim foi, de um dia para o outro, sem sofrimento, sem pressão. Eu sentia (ainda sinto) como a prática supre determinadas carências e, como num passe de mágica, a vontade de consumir esses itens simplesmente desaparece (claro que não é assim com todo mundo, mas fiquei feliz que comigo tenha sido!).

Em agosto passei pra turma de SwáSthya e lembro nitidamente da minha primeira aula. Fiquei a prática inteira de olhos fechados, com uma naturalidade que parecia que eu estava seguindo uma memória. Mais um amor à primeira vista! Se até então eu tinha muita afinidade com tudo que me estava sendo mostrado, à partir daquele momento percebi que esse era definitivamente o "meu caminho".

A vontade de ser instrutora foi ficando cada vez mais palpável, mas eu tinha uma profissão da qual gostava muito, na qual já tinha investido anos e anos de estudo e estava começando a me estabelecer profissionalmente, começando a ganhar dinheiro. Dinheiro este que me proporcionava inclusive vivenciar o SwáSthya...

E por falar em trabalho, eu precisaria tirar férias até o final do ano e, como sempre gostei muito de viajar, quis unir o agradável ao mais agradável ainda e ir para um lugar onde tivesse uma escola do Método DeRose. Ao consultar o site para ver as escolas, Saquarema brilhou na minha frente! Fui falar com a Carla, que me deu o maior apoio e falou maravilhas da Rô de Castro, que eu ainda não conhecia nem de "fama".

Escrevi então pra Rô, dizendo que queria ir pra lá e que estava disposta a ajudar na Unidade no que fosse preciso. A sensação de ler o e-mail de resposta dela também é um episódio nessa jornada que guardo no meu bau de tesouros! Ela foi extremamente acolhedora, como se nos conhecêssemos há muito tempo e me convidou para ficar hospedada na casa dela!!! Eu mal podia acreditar!

E lá fui eu pra Saquarema! Foi uma semana maravilhosa de convívio naquela escola praiana. Como discípula mais nova ficava com as "piores" tarefas, mas eu nunca fui tão feliz ao limpar um banheiro! Tive ainda o privilégio de sádhanas praticamente VIPs com a Rô, sem que na época eu soubesse de tudo o que ela é, mas com aquelas vivências era impossível não notar que eu estava em mãos muito, mas muito especiais. Mais um amor à primeira vista pra minha coleção de amores nessa família.

Voltei dessa viagem com os vínculos com a egrégora ainda mais fortalecidos. Entreguei pra Carla, voluntariamente, um relato de guru sêvá que reli outro dia enquanto arrumava minha pasta na escola... impossível conter as lágrimas.

Em agosto de 2009 subi mais um degrau na escala evolutiva e também participei do meu primeiro festival. Não vou me alongar na descrição do que foi pra mim essa experiência, só digo que foi arrebatadora. Por mais que todos falassem que o festival era o máximo, por mais que eu estivesse esperando que fosse mesmo o máximo, não tinha expectativa que desse conta do que foram aqueles três dias! Eu não imaginava que poderia ter experiências tão fortes e profundas em um ambiente tão descontraído e informal.

E foi mais ou menos por aí que eu percebi que se quisesse mergulhar um pouco mais, precisaria assumir outro nível de comprometimento. Eu já devia estar no grupo de aprofundamento filosófico e logo comecei a formação profissional. Um universo paralelo se descortinava então... como era diferente conhecer aqueles bastidores!

Em março do ano seguinte (2010) fui para minha primeira avaliação na Federação do Estado. Intensa é a melhor palavra para descrevê-la. Mais um vez o profissionalismo e a seriedade, aliados a um ambiente descontraído e acolhedor, me surpreenderam. A forma como a banca avaliava cada candidato me chamou muita atenção, principalmente porque a maioria dos avaliadores era muito jovem, mas com uma experiência e até mesmo uma sabedoria muito grandes!

Dois meses depois voltei para fazer uma nova avaliação (procedimento para todos os novatos) e no mês do meu aniversário ganhei meu melhor presente: fui aprovada! "Ganhei" uma turma na escola e logo comecei a dar aulas, ainda sem ter feito a opção definitiva entre as duas profissões, que até o fim do ano levei de forma paralela.

Ao mesmo tempo que eu queria me dedicar totalmente à profissão de instrutora, ainda precisava de uma certa segurança financeira da engenharia florestal... todo começo de carreira implica em alguns sacrifícios e justo agora que eu estava saindo dessa fase, inventava de começar tudo de novo! No começo da engenharia florestal eu tinha o suporte dos meus pais, para o básico e fundamental, sem nenhuma regalia, mas era um aporte mínimo que me permitia dar alguns voos em busca de um pouso mais estável.

No começo do trabalho como instrutora quem fazia esse aporte mínimo era a engenharia florestal. Mas as duas coisas competiam e em janeiro de 2011, com novas possibilidades na escola, me comprometi a trabalhar só como instrutora (na verdade mantive um trabalho com o qual eu já estava envolvida, mas que me demandava muito pouco tempo e apenas a cada três meses).

Não vou ocultar o fato de que ter o apoio - emocional, filosófico e financeiro - do meu marido foi absolutamente fundamental em todas as minhas escolhas! Ele sempre enxergou como aquela prática me fazia bem e em momento algum me questionou sobre a opção de ser instrutora, ao contrário, me dava muito incentivo! Além disso, se eu não tivesse a tranquilidade de ter alguém para cobrir o aluguel enquanto o pagamento não vem, seria inviável.

Como todas as decisões foram pensadas e ponderadas, eu tinha um plano. E meu plano era que o ano de 2011 seria um grande "test drive" para eu sentir a profissão de instrutora. Participei dos eventos administrativos, fiz minha revalidação na Federação, assumi funções importantes na equipe da escola (que era na verdade só eu e a Carla!), dei muitas aulas, fiz muitos cursos, enfim, aprendi pra caramba!

E essa imersão me fez ver que, em termos profissionais, talvez esse não seja o meu caminho. Acho lindo como os instrutores são apaixonados pela profissão, mas não consegui chegar nesse nível. Uma das primeiras "luzinhas vermelhas" que acenderam foi um incômodo com a rigidez do compromisso com as aulas, agravado pelo fato de estarmos em uma equipe muito pequena, sem grandes possibilidades de ter alguém para cobrir uma eventual falta. Sei que isso não é algo inerente à profissão, mas relacionado à realidade específica da Unidade Itu... só que era essa a "minha" realidade...

Outro ponto que começou a pegar foi o ganho financeiro ainda muito limitado. Também não é algo inerente à profissão, porque conheço muitos instrutores bem sucedidos financeiramente. E se formos pensar que eu estava no comecinho da carreira, podemos considerar como algo totalmente normal... mas nada é isolado e aí entra outro aspecto da decisão, que é um planejamento de longo prazo, considerando, é claro, as expectativas e anseios do meu marido.

E esse nosso planejamento de longo prazo não inclui continuar em Itu, onde viemos parar por "conveniências profissionais". Não inclui, na verdade, nenhuma grande cidade e uma coisa que pude constatar é que é muito difícil e pouco gratificante trabalhar com o Método em cidades pequenas (considerando Itu como uma cidade pequena... nas menores então, acho impossível!).

Nossa intenção é ir cada vez mais pro "meio do mato" e já cheguei a cogitar um trabalho com o Método nesse tipo de ambiente, sonhei muito, mas sinto que esses sonhos ainda estão muito distantes da realidade - da minha realidade e da realidade dos rumos que o Método vem tomando...

Enfim, diante disso tudo resolvi que vou voltar a trabalhar com engenharia florestal, pelo menos por enquanto, pelo menos enquanto o caminho entre meus sonhos e a realidade ainda estiver encoberto por névoas...

Mas quero deixar as portas abertas! Quero continuar sendo instrutora, quero continuar sendo sua supervisionada, quero continuar sendo monitorada da Carla. Sei que os vínculos com a egrégora ficarão mais fracos, mas se eu puder pelo menos continuar nessa rede, tenho esperança de deixar a chama acesa.

Continuo praticando na Unidade Itu (enquanto estiver por aqui...) e farei minha revalidação em março. Mesmo depois que eu mudar, virei fazer as aulas de monitoria. Provavelmente onde estarei não terei uma Unidade do Método e será um grande teste de disciplina praticar sozinha... penso até em montar um grupo de prática, algo não muito formal, mas que me possibilite exercitar dar aulas e também divulgar a Nossa Cultura (conversaremos sobre isso quando for o caso, por enquanto é só uma ideia).

Queria finalizar esse longo relato dizendo, com todas as letras, que tenho uma admiração enorme por você, pela sua trajetória de vida. A força com que você mantém unida essa família é de arrepiar! Quero continuar sob ela! Aproveito também para expressar o meu carinho pela Fê, que pude conhecer um pouco mais de perto no processo de certificação da escola e que é também uma das figuras que mais admiro dentro do Método. Vocês formam um casal e tanto, é lindo de ver!!!

Mestre querido, muito obrigada! Quero continuar honrando o privilégio de ser sua discípula, quero que cada vez mais pessoas façam parte dessa cultura, quero que você seja muito feliz e recompensado pelo seu incansável trabalho!

Prometo encontrar meios de contribuir pra tudo isso, mesmo que não exercendo a profissão de instrutora.

Um forte abraço,

Carol Mathias.

3 comentários:

  1. Lindo de mais Carol! Lindo voce sentir e seguir seu coração! Adoro te ler ;)

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  2. Obrigada Má! São muitas as réguas e compassos que me permitem sentir e seguir meu coração e o Método DeRose está entre as principais ferramentas nessa jornada!

    Estou feliz que nos veremos em breve \o/

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