Em Itu tem um lugar muito bacana chamado Café Colômbia (Rua Santa Rita, 1779). Além de ser um ambiente muito agradável, com internet wireless e quitutes deliciosos eles tem uma DVDteca à disposição dos clientes! É isso mesmo, você pode ir lá e emprestar os filmes.
E é claro que um lugar desse, com uma ideia dessa só poderia ter ótimos títulos no acervo, né? Estive lá semana passada e peguei o Kika (1993), do Almodóvar. Eu já tinha assistido esse filme, mas em tempos remotos... tão remotos que tinha até esquecido do estilo chocante do Almodóvar.
Independente da história do filme e das abordagens polêmicas o sentimento que eu mais tinha era o de estar assistindo a uma verdadeira Obra de Arte. Sim, com letras maiúsculas! Não sei como explicar, simplesmente isso: estou vendo Arte.
Não quero entrar na discussão de o que é arte e o que não é, mesmo porque acho que isso está muito ligado com a experiência de cada um: se o objeto (música, dança, pintura, escultura, teatro, texto, filme, fotografia...) atinge camadas mais sutis da sua composição, mexe com sentimentos e sensações, pronto, é arte!
E o cinema é uma forma de arte muito interessante, porque praticamente une todas as manifestações artísticas. Claro, há quem explore mais e quem explore menos esse "privilégio", que é ao mesmo tempo um desafio, afinal, tem que harmonizar músicas, cores, formas, movimentações, expressões, história (que pode ser contada de inúmeras formas...).
Bom, se você ainda não viu Kika, recomendo. Trata-se de uma comédia, mas com cenas fortes, incluindo assassinatos e sexo bizarro, mas que são "abrandadas" pela atmosfera surreal e deliciosamente colorida!
Ah, e olha que feliz coincidência: fui pesquisar um pouco sobre o Almodóvar e descobri que o aniversário dele é daqui a pouquinho, dia 24 de setembro! Ele foi o primeiro espanhol indicado ao Oscar de melhor diretor com o filme Fale com ela (2002), que acabou levando o prêmio pelo melhor roteiro. Levou também a estatueta de melhor filme estrangeiro com Tudo sobre minha mãe (1999), que também lhe rendeu o prêmio de melhor diretor em Cannes.
Além desses premiados, outros dele que assisti e recomendo são: Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988), Ata-me (1990), Má educação (2004) e Volver (2006).
terça-feira, 20 de setembro de 2011
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Tem que ter saco!
Andam falando das tais sacolinhas plásticas, que vão ser proibidas ou sei lá o que. Pois tenho uma confissão a fazer: até algumas semanas atrás eu era uma fiel consumidora das sacolinhas, pois serviam como sacos de lixo. A gente produz um volume muito pequeno de lixo em casa, uma vez que os resíduos orgânicos vão para a composteira e os recicláveis são coletados por uma cooperativa. Dava em média uma sacolinha por semana, composta principalmente pelo lixo do banheiro.
O uso das sacolinhas para embalar o lixo já era um dos Rs, o Reutilizar (leia mais sobre isso aqui). Ao invés de comprar sacos de lixo eu reutilizava uma embalagem que outrora servira para outra coisa. Do mesmo jeito que uso os sacos de ração para acomodar o lixo reciclável.
Mas agora surgiu a oportunidade de dar mais um passo na minha evolução ambientalista :) que é a Redução das sacolinhas (mais um R, o primeiro e mais importante), usando outra forma de acondicionar o lixo doméstico: saquinhos de jornal!
Foi minha mãe que mandou a dica, que por sua vez vem de um blog bem interessante: www.deverdecasa.com (veja a postagem dos saquinhos de jornal aqui).
Como tenho um compromisso com a educação através do exemplo, primeiro testei a ideia em casa e agora divulgo pra vocês!
Pontos fortes:
- uso de recipiente reutilizado e biodegradável para acondicionar lixo;
- redução do consumo de sacolas plásticas, feitas com matéria prima não-renovável e de loooooooooongo tempo de degradação (uns 40 anos segundo o Dr. Google);
- custo zero!
Pontos fracos:
- tem que trocar o lixo mais vezes, pois o volume do saquinho feito com uma folha de jornal é menor do que o de uma sacolinha (isso é até bom sob o ponto de vista de higiene... antes eu ficava fazendo uma sacolinha "render" e acumulava lixo por um tempo duvidosamente saudável...);
- tem que fazer o saquinho! (o que pode ser bom também, saindo da cadeia "compre pronto" e aproveitando pra passar uns minutos na posição agachada, que alonga as pernas e estimula o funcionamento dos intestinos, hehe - claro que isso só vale se você fizer o saquinho no chão...).
Observações importantes:
Se você descarta o lixo orgânico no lixo comum talvez esse sistema não funcione muito bem, embora você possa fazer saquinhos mais reforçados, com duas ou três folhas. No lixo do banheiro uma folha é suficiente e no lixo da cozinha uso duas folhas, pois descarto os cítricos (as minhocas não gostam...) e vez ou outra alguma coisa molhada vai pro lixo. Estou usando também pra recolher os cocôs dos cachorros, mas nos passeios ainda uso sacolinhas plásticas (tipo mãe que usa fralda de pano no bebê, mas na hora de sair de casa apela pra descartável, rs...).
No blog que indiquei acima tem um passo-a-passo pra fazer os saquinhos, mas seguem algumas fotos daqui também:
Que os mestres do origami não vejam, mas pra fazer o saquinho duplo eu faço um com a folha inteira, deixando os bicos desencontrados mesmo, pra ficar um pouco maior.
A dobradura fica meio "desconjuntada", mas dá certo!
Depois eu faço um saquinho normal, com o papel quadrado, e coloco um dentro do outro.
Pra ficar mais prático eu não corto o papel, apenas dobro a faixa que sobrou e vamo que vamo!
Olha lá que bonitinho!
Uma das diferenças que senti com o uso do jornal é que o lixo "respira"; fica mais arejado e menos fedido.
Ah, tem um outro detalhe: aqui em Itu temos umas caçambas na rua pra colocar o lixo, então eu só dobro/amasso a boca dos saquinhos, sem muita preocupação se vai abrir, mas se eu tivesse que colocar o lixo na rua provavelmente teria que ter mais cuidado. Se é o seu caso, você pode usar recipientes maiores (de preferência reutilizados, como sacolas grandes, sacos de ração, caixas de papelão...) para juntar vários saquinhos de jornal e colocar na rua de forma que não corra o risco de espalhar tudo com qualquer vento.
E vai testando, tentando, experimentando, descobrindo e contado pra gente!
O uso das sacolinhas para embalar o lixo já era um dos Rs, o Reutilizar (leia mais sobre isso aqui). Ao invés de comprar sacos de lixo eu reutilizava uma embalagem que outrora servira para outra coisa. Do mesmo jeito que uso os sacos de ração para acomodar o lixo reciclável.
Mas agora surgiu a oportunidade de dar mais um passo na minha evolução ambientalista :) que é a Redução das sacolinhas (mais um R, o primeiro e mais importante), usando outra forma de acondicionar o lixo doméstico: saquinhos de jornal!
Foi minha mãe que mandou a dica, que por sua vez vem de um blog bem interessante: www.deverdecasa.com (veja a postagem dos saquinhos de jornal aqui).
Como tenho um compromisso com a educação através do exemplo, primeiro testei a ideia em casa e agora divulgo pra vocês!
Pontos fortes:
- uso de recipiente reutilizado e biodegradável para acondicionar lixo;
- redução do consumo de sacolas plásticas, feitas com matéria prima não-renovável e de loooooooooongo tempo de degradação (uns 40 anos segundo o Dr. Google);
- custo zero!
Pontos fracos:
- tem que trocar o lixo mais vezes, pois o volume do saquinho feito com uma folha de jornal é menor do que o de uma sacolinha (isso é até bom sob o ponto de vista de higiene... antes eu ficava fazendo uma sacolinha "render" e acumulava lixo por um tempo duvidosamente saudável...);
- tem que fazer o saquinho! (o que pode ser bom também, saindo da cadeia "compre pronto" e aproveitando pra passar uns minutos na posição agachada, que alonga as pernas e estimula o funcionamento dos intestinos, hehe - claro que isso só vale se você fizer o saquinho no chão...).
Observações importantes:
Se você descarta o lixo orgânico no lixo comum talvez esse sistema não funcione muito bem, embora você possa fazer saquinhos mais reforçados, com duas ou três folhas. No lixo do banheiro uma folha é suficiente e no lixo da cozinha uso duas folhas, pois descarto os cítricos (as minhocas não gostam...) e vez ou outra alguma coisa molhada vai pro lixo. Estou usando também pra recolher os cocôs dos cachorros, mas nos passeios ainda uso sacolinhas plásticas (tipo mãe que usa fralda de pano no bebê, mas na hora de sair de casa apela pra descartável, rs...).
No blog que indiquei acima tem um passo-a-passo pra fazer os saquinhos, mas seguem algumas fotos daqui também:
Que os mestres do origami não vejam, mas pra fazer o saquinho duplo eu faço um com a folha inteira, deixando os bicos desencontrados mesmo, pra ficar um pouco maior.
A dobradura fica meio "desconjuntada", mas dá certo!
Depois eu faço um saquinho normal, com o papel quadrado, e coloco um dentro do outro.
Pra ficar mais prático eu não corto o papel, apenas dobro a faixa que sobrou e vamo que vamo!
Olha lá que bonitinho!
Uma das diferenças que senti com o uso do jornal é que o lixo "respira"; fica mais arejado e menos fedido.
Ah, tem um outro detalhe: aqui em Itu temos umas caçambas na rua pra colocar o lixo, então eu só dobro/amasso a boca dos saquinhos, sem muita preocupação se vai abrir, mas se eu tivesse que colocar o lixo na rua provavelmente teria que ter mais cuidado. Se é o seu caso, você pode usar recipientes maiores (de preferência reutilizados, como sacolas grandes, sacos de ração, caixas de papelão...) para juntar vários saquinhos de jornal e colocar na rua de forma que não corra o risco de espalhar tudo com qualquer vento.
E vai testando, tentando, experimentando, descobrindo e contado pra gente!
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Chuva dos olhos
Acordei de madrugada com o barulho da chuva. Uma chuva generosa, com relâmpagos, trovões e muita água. Já de manhã, quis chorar. Nem tristeza, nem alegria, mas apenas vontade de participar do dia molhado.
Como que para justificar minhas lágrimas avulsas de um sentimento compreensível, citações começam a chover em minha mente:
As lágrimas são um rio que nos leva a algum lugar. O choro forma um rio em volta do barco que carrega a vida da alma. As lágrimas erguem seu barco das pedras, soltam-no do chão seco, carregam-no para um lugar novo, um lugar melhor (Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que correm com os lobos).
Como que para justificar minhas lágrimas avulsas de um sentimento compreensível, citações começam a chover em minha mente:
As lágrimas são um rio que nos leva a algum lugar. O choro forma um rio em volta do barco que carrega a vida da alma. As lágrimas erguem seu barco das pedras, soltam-no do chão seco, carregam-no para um lugar novo, um lugar melhor (Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que correm com os lobos).
Arrepender-se nunca mais
Amar nunca é demais
Sofrer faz parte desse jogo
Amor é fogo, pode queimar
O choro é um prisma luminoso
Meu coração não tem mais medo de chorar
Bebado samba - Paulinho da Viola
Um mestre do verso, de olhar destemido,
disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra
Milágrimas - Itamar Assunção
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
Coleciono milagres. O barco que carrega a vida da minha alma navega sobre águas profundas. Em tempestades e calmarias. Quando as palavras são pesadas, choro.
E então, a chuva abranda. As lágrimas começam a secar no rosto.
Mas, antes do ponto final, chega, inesperada, uma nova rajada:
O Dia Deu em Chuvoso - Álvaro de Campos
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Sim, o dia deu em chuvoso!
Amar nunca é demais
Sofrer faz parte desse jogo
Amor é fogo, pode queimar
O choro é um prisma luminoso
Meu coração não tem mais medo de chorar
Lágrima é água, é puro sal
E foi desse cristal
Que a vida começou no mar
Viver é tempestade e calmaria
Sofrendo a gente aprende a navegar, um dia
E foi desse cristal
Que a vida começou no mar
Viver é tempestade e calmaria
Sofrendo a gente aprende a navegar, um dia
Bebado samba - Paulinho da Viola
Um mestre do verso, de olhar destemido,
disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra
Milágrimas - Itamar Assunção
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
Coleciono milagres. O barco que carrega a vida da minha alma navega sobre águas profundas. Em tempestades e calmarias. Quando as palavras são pesadas, choro.
E então, a chuva abranda. As lágrimas começam a secar no rosto.
Mas, antes do ponto final, chega, inesperada, uma nova rajada:
O Dia Deu em Chuvoso - Álvaro de Campos
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Sim, o dia deu em chuvoso!
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Quanto Vale o Trabalho?
Puxando aqui na memória, comecei a pensar objetivamente no assunto quando tive meu primeiro emprego. Eu era responsável por uma equipe de trabalhadores braçais, que faziam e plantavam as mudas de árvores tão preciosas para a instituição e para os patrocinadores. Meu salário era umas cinco vezes mais alto que o deles e isso me incomodava profundamente.
Em termos de horas eu até podia trabalhar um pouco mais do que eles, que tinham asseguradas as oito horas diárias, enquanto que a parte mais "intelectual" da equipe muitas vezes não tinha hora pra ir embora. Mas a diferença não era tanta. Em termos de empenho e dedicação, aprendi muito com alguns deles e me comovia a forma como tratavam as mudinhas, com o cuidado e carinho que todo ser vivo merece, mas que poucos tem.
Qual era a diferença então? O fato de eu ter passado dois terços da minha vida estudando? O fato de ostentar em meu currículo o pomposo nome de uma Universidade reconhecida? Universidade esta custeada pelo trabalho de todos os cidadãos paulistas, diga-se de passagem.
Por mais que a gente saiba que está em um país com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, parece que só quando sente na pele pra se dar conta mesmo.
Acho que não precisa falar que tudo isso gerou apenas movimentos internos e não, eu não dividi o meu salário com a equipe, nem os instiguei a fazer greves e reivindicações. Acho que esse tempo já passou... e, no mais, cada um estava feliz com seu emprego, com sua carteira assinada, seu plano de saúde... certamente muitos dos seus vizinhos não tinham a mesma sorte.
Então eu saí do emprego (por n motivos) e fui ser agricultura. Isso, agricultora. Durou pouco, mas o suficiente pra eu sentir na pele - na pele mesmo, das mãos calejadas e do rosto queimado de sol - quanto ganham as pessoas que colocam a comida na nossa mesa. É ridículo.
As profissões se engalfinham discutindo qual é a mais nobre e eu digo, meu senhor, que o ofício mais nobre é o de produzir alimentos. É o ofício de semear, de cuidar, de colher, porque sem ele ninguém faria mais nada...
Tudo bem, até me abstenho da discussão sobre a importância de cada ofício, pois sei que cada um deles tem o seu papel... e é mais ou menos nesse ponto que eu queria chegar. Quanto Vale o Trabalho?!
O que faz o trabalho de uma pessoa valer mais que o de outra?
E só pra terminar a minha linha do tempo dessa análise, atualmente, que não tenho mais ninguém sob o meu comando e, consequentemente com salários mais baixos que o meu, que não sou mais explorada por um sistema que menospreza o campo, o que me cutuca é a relação com o trabalho das empregadas domésticas.
Às vezes eu me sinto uma imbecil quando estou limpando a casa, pois eu poderia pagar uma faxina com uma hora do meu trabalho. Chega a ser burrice financeira - tanto que voltei a ter uma faxineira com periodicidade quinzenal, depois de longos meses by myself.
Mas aquela pequena Sinhá Moça dentro de mim não me deixa em paz! Em primeiro lugar, eu já acho um absurdo alguém ter que limpar a minha sujeira e, pra piorar, enquanto ela está limpando a minha sujeira eu estou ganhando dez vezes mais dinheiro do que ela.
Bem, se você estava esperando uma conclusão grandiosa, irei decepcioná-lo. Eu só queria mesmo compartilhar algumas angústias... mas uma música não me sai da cabeça:
Sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor! Beto Guedes
Em termos de horas eu até podia trabalhar um pouco mais do que eles, que tinham asseguradas as oito horas diárias, enquanto que a parte mais "intelectual" da equipe muitas vezes não tinha hora pra ir embora. Mas a diferença não era tanta. Em termos de empenho e dedicação, aprendi muito com alguns deles e me comovia a forma como tratavam as mudinhas, com o cuidado e carinho que todo ser vivo merece, mas que poucos tem.
Qual era a diferença então? O fato de eu ter passado dois terços da minha vida estudando? O fato de ostentar em meu currículo o pomposo nome de uma Universidade reconhecida? Universidade esta custeada pelo trabalho de todos os cidadãos paulistas, diga-se de passagem.
Por mais que a gente saiba que está em um país com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, parece que só quando sente na pele pra se dar conta mesmo.
Acho que não precisa falar que tudo isso gerou apenas movimentos internos e não, eu não dividi o meu salário com a equipe, nem os instiguei a fazer greves e reivindicações. Acho que esse tempo já passou... e, no mais, cada um estava feliz com seu emprego, com sua carteira assinada, seu plano de saúde... certamente muitos dos seus vizinhos não tinham a mesma sorte.
Então eu saí do emprego (por n motivos) e fui ser agricultura. Isso, agricultora. Durou pouco, mas o suficiente pra eu sentir na pele - na pele mesmo, das mãos calejadas e do rosto queimado de sol - quanto ganham as pessoas que colocam a comida na nossa mesa. É ridículo.
As profissões se engalfinham discutindo qual é a mais nobre e eu digo, meu senhor, que o ofício mais nobre é o de produzir alimentos. É o ofício de semear, de cuidar, de colher, porque sem ele ninguém faria mais nada...
Tudo bem, até me abstenho da discussão sobre a importância de cada ofício, pois sei que cada um deles tem o seu papel... e é mais ou menos nesse ponto que eu queria chegar. Quanto Vale o Trabalho?!
O que faz o trabalho de uma pessoa valer mais que o de outra?
E só pra terminar a minha linha do tempo dessa análise, atualmente, que não tenho mais ninguém sob o meu comando e, consequentemente com salários mais baixos que o meu, que não sou mais explorada por um sistema que menospreza o campo, o que me cutuca é a relação com o trabalho das empregadas domésticas.
Às vezes eu me sinto uma imbecil quando estou limpando a casa, pois eu poderia pagar uma faxina com uma hora do meu trabalho. Chega a ser burrice financeira - tanto que voltei a ter uma faxineira com periodicidade quinzenal, depois de longos meses by myself.
Mas aquela pequena Sinhá Moça dentro de mim não me deixa em paz! Em primeiro lugar, eu já acho um absurdo alguém ter que limpar a minha sujeira e, pra piorar, enquanto ela está limpando a minha sujeira eu estou ganhando dez vezes mais dinheiro do que ela.
Bem, se você estava esperando uma conclusão grandiosa, irei decepcioná-lo. Eu só queria mesmo compartilhar algumas angústias... mas uma música não me sai da cabeça:
Sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor! Beto Guedes
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Uivando
Você já deve saber que eu estou lendo o livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés, pois tenho falado muito nele desde que li as primeiras palavras.
Pra quem não conhece, resumidamente, a autora fala da importância de nós, mulheres, nos conectarmos com a Mulher Selvagem, um arquétipo que segundo ela não precisa de muitas explicações, uma vez que sua compreensão é praticamente instintiva por parte das mulheres. Ela fala de como as mulheres vem sendo "domesticadas" por todas as culturas e dos prejuízos que isso causa para cada uma e, consequentemente, para toda a sociedade
Para resgatar essa Mulher Selvagem ela vai usando histórias, lendas, mitos, colhidas em muitos anos de pesquisa ao redor do mundo. Como junguiana que é, Clarissa vai interpretando os símbolos e traduzindo para aplicações bastante práticas os ensinamentos de cada história.
Não faz muito tempo venho me encantando pelo universo feminino, no que diz respeito às suas características básicas e aos seus valores. Essa abordagem mais "racional" começou quando fui convidada para fazer parte do Instituto Mater Gaia (IMGAIA), fundado e liderado pela minha querida amiga Maria Grillo. Por enquanto faço parte apenas virtualmente da instituição, mas um dia pretendo me dedicar de forma direta. Basicamente o Instituto visa desenvolver trabalhos voltados para a valorização do feminino, atuando em diversas frentes. A sede é em Penedo, RJ e quem quiser saber mais estou à disposição.
A ideia agora não é aprofundar no campo de atuação do IMGAIA, mas utilizar algumas referências do grupo, sintetizando as atitudes e valores relativos ao princípio feminino. Se você é mulher, leia a lista a seguir fazendo um exercício de checar como está cada atributo na sua vida. Se você é homem, tenha claros esses valores e permita que as mulheres à sua volta possam desenvolvê-los livremente. Veja lá:
Conforme vou lendo o Mulheres que correm com os lobos, cada um desses tópicos vai ficando mais claro e os mecanismos para desenvolvê-los também, contando inclusive com medidas de proteção para não cair num "mundo cor de rosa" ilusório.
Não é fácil ser mulher em uma sociedade claramente patriarcal e acho que o principal desafio é não ceder ao sistema "masculinizador", cuja principal armadilha é, a meu ver, a imagem da executiva, indiscutivelmente feminina, com seu tailleur, salto fino e maquiagem, mas que oculta uma mulher oprimida em seus instintos básicos (que frequentemente nem se dá conta disso, tão entorpecida e domesticada que está).
Mas a Mulher Selvagem viverá enquanto a mulher viver. E estará sempre à sua espera, seja numa clareira de floresta em noite de lua cheia, no respirar do filho que dorme em seu colo ou na música que toca seu coração. Fareje seu rastro e corra para alcançá-la!
Pra quem não conhece, resumidamente, a autora fala da importância de nós, mulheres, nos conectarmos com a Mulher Selvagem, um arquétipo que segundo ela não precisa de muitas explicações, uma vez que sua compreensão é praticamente instintiva por parte das mulheres. Ela fala de como as mulheres vem sendo "domesticadas" por todas as culturas e dos prejuízos que isso causa para cada uma e, consequentemente, para toda a sociedade
Para resgatar essa Mulher Selvagem ela vai usando histórias, lendas, mitos, colhidas em muitos anos de pesquisa ao redor do mundo. Como junguiana que é, Clarissa vai interpretando os símbolos e traduzindo para aplicações bastante práticas os ensinamentos de cada história.
Não faz muito tempo venho me encantando pelo universo feminino, no que diz respeito às suas características básicas e aos seus valores. Essa abordagem mais "racional" começou quando fui convidada para fazer parte do Instituto Mater Gaia (IMGAIA), fundado e liderado pela minha querida amiga Maria Grillo. Por enquanto faço parte apenas virtualmente da instituição, mas um dia pretendo me dedicar de forma direta. Basicamente o Instituto visa desenvolver trabalhos voltados para a valorização do feminino, atuando em diversas frentes. A sede é em Penedo, RJ e quem quiser saber mais estou à disposição.
A ideia agora não é aprofundar no campo de atuação do IMGAIA, mas utilizar algumas referências do grupo, sintetizando as atitudes e valores relativos ao princípio feminino. Se você é mulher, leia a lista a seguir fazendo um exercício de checar como está cada atributo na sua vida. Se você é homem, tenha claros esses valores e permita que as mulheres à sua volta possam desenvolvê-los livremente. Veja lá:
1. Cuidar
2. Nutrir
3. Acolher
4. Exercitar a maternagem
5. Preservar a família
6. Harmonizar
7. Preservar
8. Compartilhar
9. Aceitar
10. Cultivar a beleza
11. Cultivar a vida criativa
12. Celebrar
13. Valorizar a intuição, a sensibilidade e a introspecção
14. Contemplar
15. Exercitar a compaixão
16. Respeitar os ciclos da natureza e os ciclos lunares femininos
17. Respeitar a natureza e a vida em todas as suas manifestações
18. Perceber o sagrado em todas as manifestações da vida
Conforme vou lendo o Mulheres que correm com os lobos, cada um desses tópicos vai ficando mais claro e os mecanismos para desenvolvê-los também, contando inclusive com medidas de proteção para não cair num "mundo cor de rosa" ilusório.
Não é fácil ser mulher em uma sociedade claramente patriarcal e acho que o principal desafio é não ceder ao sistema "masculinizador", cuja principal armadilha é, a meu ver, a imagem da executiva, indiscutivelmente feminina, com seu tailleur, salto fino e maquiagem, mas que oculta uma mulher oprimida em seus instintos básicos (que frequentemente nem se dá conta disso, tão entorpecida e domesticada que está).
Mas a Mulher Selvagem viverá enquanto a mulher viver. E estará sempre à sua espera, seja numa clareira de floresta em noite de lua cheia, no respirar do filho que dorme em seu colo ou na música que toca seu coração. Fareje seu rastro e corra para alcançá-la!
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