Como que para justificar minhas lágrimas avulsas de um sentimento compreensível, citações começam a chover em minha mente:
As lágrimas são um rio que nos leva a algum lugar. O choro forma um rio em volta do barco que carrega a vida da alma. As lágrimas erguem seu barco das pedras, soltam-no do chão seco, carregam-no para um lugar novo, um lugar melhor (Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que correm com os lobos).
Arrepender-se nunca mais
Amar nunca é demais
Sofrer faz parte desse jogo
Amor é fogo, pode queimar
O choro é um prisma luminoso
Meu coração não tem mais medo de chorar
Bebado samba - Paulinho da Viola
Um mestre do verso, de olhar destemido,
disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra
Milágrimas - Itamar Assunção
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
Coleciono milagres. O barco que carrega a vida da minha alma navega sobre águas profundas. Em tempestades e calmarias. Quando as palavras são pesadas, choro.
E então, a chuva abranda. As lágrimas começam a secar no rosto.
Mas, antes do ponto final, chega, inesperada, uma nova rajada:
O Dia Deu em Chuvoso - Álvaro de Campos
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Sim, o dia deu em chuvoso!
Amar nunca é demais
Sofrer faz parte desse jogo
Amor é fogo, pode queimar
O choro é um prisma luminoso
Meu coração não tem mais medo de chorar
Lágrima é água, é puro sal
E foi desse cristal
Que a vida começou no mar
Viver é tempestade e calmaria
Sofrendo a gente aprende a navegar, um dia
E foi desse cristal
Que a vida começou no mar
Viver é tempestade e calmaria
Sofrendo a gente aprende a navegar, um dia
Bebado samba - Paulinho da Viola
Um mestre do verso, de olhar destemido,
disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra
Milágrimas - Itamar Assunção
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
Coleciono milagres. O barco que carrega a vida da minha alma navega sobre águas profundas. Em tempestades e calmarias. Quando as palavras são pesadas, choro.
E então, a chuva abranda. As lágrimas começam a secar no rosto.
Mas, antes do ponto final, chega, inesperada, uma nova rajada:
O Dia Deu em Chuvoso - Álvaro de Campos
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Sim, o dia deu em chuvoso!
Ah, chuva generosa e inspiradora... Gostei muito! Beijo!
ResponderExcluirDesculpem, mas de lágrimas cancerianos sabem muito. De todos os tipos, de não-motivos, de muitos porquês. Os poetas e os sábios conseguem entender e traduzir nosso verdadeiro amor por elas. De tudo o que você selecionou tão bem, eu só não conhecia o trecho do sua grande leitura do momento, Mulheres que correm com lobos. É maravilhoso ver alguém colocando por escrito, em alta definição, o que sentimos lá no fundo, por experiência! Obrigada, filhalinda, por captar e irradiar tanta beleza!
ResponderExcluirObrigada mãe e Clarissa.
ResponderExcluirMãe, vou te passar esse livro em breve ;)
Muito bom, Cá.
ResponderExcluirSempre que chove penso em Álvaro de Campos...
bonito!
ResponderExcluirum beijo
Rosaura Soligo
http://chiarosscuro.blogspot.com/
muito bom, Carol. Aliás, você tem se revelado uma cronista e tanto, heim?
ResponderExcluirah! e quando li o início do texto foi inevitável pensar: ainda bem que Carol não mora aqui, ia viver chorando ... rs (ainda mais nessa época, a estação "chove o dia todo" - em contraposição à outra, em que "chove todo dia" .. rs)
beijos
Obrigada Ana, Rosaura e Ana!
ResponderExcluirBom Ana (baiana, rs...) esse texto foi bem "sem vergonha", uma colcha de retalhos. Às vezes eu acho que já tem tanta coisa (muito boa) escrita que o mundo não precisa das minhas palavras, mas sim que eu mostre e ressalte essas coisas boas já escritas. E por falar nisso, como diz o Milton:
"certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: como não fui eu que fiz?" =D