domingo, 29 de dezembro de 2024

verão

 verão no litoral SP/RJ = chuva, calor, muita gente

estradas e praias cheias

a pandemia me ensinou a apreciar as pessoas na praia, a celebrar nossa alegria por estarmos na praia, por termos condições - físicas e financeiras - de estar na praia

desde lá, é como se todas as pessoas da praia estivessem comigo numa grande festa

(e não estão?!)

mas dessa vez, nessa temporada, eu preferiria não estar numa festa... no mar, sim; na praia, sim, mas não na festa da praia

tenho tanto a dizer e festa não é lugar de "dizer" nada

festa é lugar pra "falar" - e ai que preguiça de "falar"

festa é pra "estar" - não é nem pra "ser"

e, céus, como preciso ser!

.

existe um mau humor me habitando, uma irritação

as bagunças alheias estão me irritando, como que escancarando os "fora de lugar" que me habitam

-- a casa tem duas pias e depois do almoço (adivinha?) ambas estavam cheias de louça; respirei fundo e encarei a missão; meu humor foi acalmando, a irritação cedeu lugar a uma leveza que até cantei; pelo menos fora de mim algo está em ordem

.

sabe, gente, não é que eu cancelei o Natal

eu só estou reivindicando o Natal pra mim

não é que eu não goste de Natal

pelo contrário!

essa época é tão especial e importante pra mim (ainda estou descobrindo os porquês) que preenche-la com excessos é ultrajante, chega a ser uma violência

eu quero poder meditar em paz, sem ter que cumprir cronogramas intermináveis de compras & comidas & compras de comidas (e bebidas, claro)

eu quero ter tempo e espaço pra fazer as minhas reflexões, olhar o ano que passou, celebrar as conquistas, primeiro comigo, depois (no réveillon?!) com as pessoas que estão em volta

mas também não me tomem a virada de ano, por favor

uma festa singela, pequena, poucas pessoas, pra não ter que fazer aquele mundaréu de comida, que faz a gente passar horas na cozinha (antes e depois) e que invariavelmente termina em desperdício, e se tem coisa que me entristece é desperdício

quanto às pessoas, sem hierarquias, simplesmente as que estiverem por perto, as que puderem, as que toparem

sem o peso do "tem que estar", "tem que ir", "tem que chamar"

e a virada do ano é só a metade da época meditativa, introspectiva

eu quero poder começar janeiro, começar o ano, com tempo e espaço pra entender o quero fazer nesse ano

eu quero poder escrever, abrir oráculos, tomar banhos de ervas, usar óleos, fazer exercícios, correr, tomar sol, comer bem

eu quero poder sentir que estou de férias, que posso acordar sem ter toda uma agenda me esperando

e, sabe, eu sou capaz de fazer tudo isso, de criar todos esses momentos

eu não to pedindo que as pessoas em volta façam nada

eu só to pedindo pra que respeitem meu espaço, meu tempo, minhas vontades

-- por que se ausentar das confraternizações familiares soa tão aviltante?!

as reações que me chegam são dignas das mais extremas rebeldias

de fato... é extremamente rebelde dizer não

não vou

não quero

não gosto

quando na verdade o que eu gostaria de dizer seria:

eu fico

quero estar a sós comigo mesma

as liturgias que fazem sentido pra mim são outras

e sabe o quê?

eu precisava justamente desse tempo/espaço pra poder elaborar essa clareza dentro de mim

pra conseguir comunicar com delicadeza

pra proteger meu território sem precisar empunhar armas

-- pra ter os chakras suficientemente alinhados a fim de tecer uma conversa diplomática

.

esse foi o terceiro Natal de luta entre fronteiras

não sei se será o último, mas essa trilogia está encerrada

Nenhum comentário:

Postar um comentário