sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Vivência de Vela e Vida a Bordo #7

7 é meu número da sorte (o dia que nasci)! E hoje, 22 de novembro, é aniversário da minha Mestra da vela, Lucimara Marcelino, musa inspiradora, fada madrinha, amor à primeira vista; não foi quem que me abriu as portas da vela, mas foi definitivamente a pessoa que me colocou pra dentro desse mundo, antes tão inalcançável. Lu, a você dedico o relato dessa cabalística 7a Vivência de Vela e Vida a bordo - nome que você criou e que adotei imediatamente!

Antes de começar, explico o que é uma VVV: estar a bordo, faça chuva ou faça sol, com muito vento, pouco vento ou nenhum vento; cuidar de ter boas comidas, boas bebidas e boa música; viver essa casa flutuante em seus pormenores; conviver com quem estiver junto, compartilhando histórias, crises, risadas, estudos. E, claro, foco em velejar. Por enquanto, restrita a mulheres. Sem cônjuges, sem filhos. É um tempo-espaço protegido para que possamos aprender e praticar, sem precisar lutar ou nos defender. É uma preciosidade.

Pois bem, essa sétima VVV foi a minha segunda enquanto comandante (nas 3 primeiras estávamos sob o comando da Lucimara; outras 2 foram comandadas pela também maravilhosa Carla Lopes; e então finalmente me senti segura para ser a pessoa mais experiente a bordo).

Como tripulantes dessa vez, Nívea e Cacá, ambas indo pela 2a vez.


Embarcamos no nosso querido veleiro Ka Mua (Delta 36), que fica no Saco da Ribeira/Ubatuba, no dia 19/11, terça-feira, às 17h e rumamos para a Ilha Anchieta, onde pernoitamos, na Praia do Engenho.


Navegação (motor) e ancoragem tranquilas; pro jantar um menu girl power: salmão e vinho rosé (é brincadeira, mas é verdade, rs...). Saladinha de folhas verdes com manga, tudo muito cuidadoso, preparado pela Ni.

No dia seguinte de manhã partimos pro nosso destino da temporada: Ilha das Couves. Navegando por mares nunca dantes navegados! Içamos a vela mestra ainda na ancoragem e deixei com o 1o rizo, nem tanto pelo vento, que tinha previsão de ser fraco, mas pra praticar mesmo. Assim que colocamos o barco no rumo abrimos a genoa e desligamos o motor. Vento de uns 7 nós com rajadas de 10/12, uma delícia! Loguinho soltamos o rizo e terminamos de subir a vela grande.


Dia espetacular, mar tranquilo. Fomos em orça fechada, timoneando o tempo todo. Nívea e Cacá se revezaram no timão e eu fiquei na trimagem. Vento e rumo conversaram harmoniosamente e só precisamos dar um bordo já no través da Ilha das Couves, bem pertinho. Logo enrolamos a genoa e ligamos o motor, porque ainda não domino a ancoragem a vela (ai se esse texto chega no Tio Spinelli, que vergonha!).


Fizemos um bom lanche e desembarcamos a tempo de conseguir uma cerveja no bar que já estava fechando as portas. Os últimos visitantes logo foram embora e a ilha ficou só pra nós! Uma pena que o sol foi embora junto, mas mesmo com céu nublado a cor da água é de uma transparência cristalina.


De volta ao Ka Mua, banho na popa, o contemplar do fim da tarde que trouxe uma chuvinha leve, um happy hour com espumante, queijos, salame. Não dá pra querer mais nada nessa vida! O jantar foi preparado pela Cacá, um macarrão com cogumelos e alho poró, MARA. Uma boa prosa e cada uma no seu canto.



Importante mencionar que pra fazer essa rota e ancoragem inéditas, pesquisei com navegadores mais experientes, dentre eles o Ricardo, companheiro da Lucimara, que nos encontrou no café da Ribeira pra conversar e foi monitorando à distância nossa ancoragem. Ele até pediu um vídeo 360 graus pra avaliar junto comigo direção do vento e condição do mar. Um fofo!

Só tinha o nosso barco pernoitando ali e um casal que acampou na ilhota. Sossego total! Acordei duas vezes na madrugada pra checar a ancoragem e fui presenteada com uma bela lua e céu estrelado. O dia começou ensolarado, o verde mais verde.


Os visitantes começaram a chegar e logo foi a nossa vez de curtir a praia, lagartear, descansar. Almoçamos no Bar das Pipocas e, cumprindo o cronograma, pegamos o bote 12h30. O mar estava mais animado que no dia anterior e certamente nossa saída forneceu entretenimento aos banhistas que ali estavam, rs... nada grave, lá fomos nós pro nosso veleiro.

Assim que embarcamos o vento começou a soprar com força, esticando a corrente da âncora. Eu queria sair com a vela erguida, chegamos a içar até o 2o rizo, mas estava difícil manejar vela e âncora, mesmo com motor, então baixamos a vela e conseguimos erguer ferro. Força total, partiu Ribeira.

Carneirinhos e carneirões, vento chegando a 25 nós, ondas razoáveis nos banhando com borrifos. Mãos no timão, olhos nas ondas, na bússola, no horizonte, que logo se fechou em branco. Ninguém dava um pio. Depois de mais ou menos 1h comecei a ficar com frio e liguei o piloto automático pra colocar uma camiseta (sim, ainda estava de biquini! A saída foi apressada, com aquele vento aumentando rápido). Vi que o piloto automático estava lidando bem com as ondas e assim deixei. O bom é que consegui sentar e descansar um pouco, mas o frio apertou, mesmo com capa de chuva.

Chuva fina, minutos intermináveis.

O olhar no horizonte em volta... uma alegria quando apareceu a silhueta da Ponta Grossa, depois a Ilha das Cabras e finalmente minha amada Ilha Anchieta. Ufa! As ondas foram diminuindo, o vento também. Passando pela Ilha Anchieta a conversa voltou a fazer parte da vida do cockpit; cruzando o boqueirão já saíam até umas risadas, relembrando nossas peripécias com o bote. Eu ainda apreensiva, pensando em como seria pegar a poita com vento, pois em todas as outras vezes estava tudo super favorável.

Foram 3h15 de navegação até a Ribeira. Na chegada o vento já estava mais tranquilo e pegamos a poita de primeira. Arrasei na manobra, que fique registrado, rs...

Aí sim conseguimos tirar uma foto e comemorar a travessia. Banho quente, lanchinho e aquela sensação boa de corpo cansado e feliz. Nos sentimentos uma mistura de "que loucura" com "que aventura!", mas sem dúvida um sentimento de gratidão por ter dado tudo certo. Tudo perfeito. O barco é valente e a gente também!



Oito da noite já estava cada uma em sua cama. Acordamos cedo, juntamos os trem e nos despedimos do Ka Mua na garoa.

Mais uma Vivência de Vela e Vida a bordo concluída com sucesso!



-- deixo aqui também meu agradecimento à Flip Boat Club, empresa que torna possível o sonho de velejar, ao empreender na gestão de veleiros em multipropriedade. Somos em 8 sócios-cotistas no Ka Mua, com tudo administrado de forma eficiente e transparente pela Flip, que ainda oferece um atendimento próximo, caloroso, natural, amigo. Eu não ganho comissão, rs... só quero que a Flip siga fazendo esse trabalho primoroso!


2 comentários:

  1. Querida Carolina, encantador o seu depoimento. Como um dos fundadores do Flip Boat Club fico muito feliz em ver que este projeto está acima de tudo está ajudando as pessoas a realizarem sonhos, se conectarem com a natureza, viverem momentos inesquecíveis com amigos e família e viver este maravilhoso mundo náutico que tive a oportunidade de vivenciar desde criança!!!
    Muito obrigado por mencionar a Flip, são histórias assim que nos enchem de motivação para melhorar cada dia mais e trazer muito mais pessoas para o mundo da náutica!! Contem sempre conosco!! Bons Ventos e bons momentos!!

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  2. Parabéns Carol, pela coragem. Siga incentivando as mulheres a fazer o que querem e o que gostam.

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