terça-feira, 17 de novembro de 2020

o macro e o micro - a vida humana em perspectiva


Esses dias assisti uma palestra do filósofo Roman Krznaric sobre seu novo livro "Como ser um bom ancestral". Ele faz um chamado ao pensamento de longo prazo, trazendo à luz grandes armadilhas do "curto-termismo" que nos invade constantemente. Essas armadilhas vão desde hábitos cotidianos, como a "tirania do relógio" e a "distração digital", até estratégias políticas e econômicas que tem um alcance muito restrito (a próxima eleição) e volátil (especulações financeiras).

Para pensar pra frente - pra frente de verdade, e não pro próximo par de anos - ele propõe alguns caminhos, como considerar qual legado você deixa para a próxima geração, ou o que ele chama de raciocínio de catedral, que é construir coisas (ou ideias) que sabemos que não serão finalizadas na escala da vida individual. Ele fala também em justiça intergeracional e cita os nativos norte-americanos, que consideram o bem estar da sétima geração em suas decisões.


E tem um outro conceito que ele traz, a Humildade do Tempo Profundo, nos chamando a perceber que somos um piscar de olhos no tempo cósmico.

Fico aqui pensando que ser esse piscar de olhos pode tanto nos dissociar do ego, ao nos colocar diante dessa magnitude toda, quanto causar uma sensação de "pra que legado, pra que catedral, se no fim serão apenas alguns piscares de olhos?" - e o que me vem é que expressar aquilo que está no meu potencial independe de "querer" deixar um legado; me parece que a coisa está mais para evitar as armadilhas da modernidade, que nos distraem constantemente do que realmente importa, do que estabelecer de forma racional metas de longo prazo... porque no fim acredito que vidas bem vividas, vidas conscientes e despertas, naturalmente contemplam os valores de legado e justiça intergeracional.

[ só é preciso estar atento e forte, porque as armadilhas são taaaaaaantas... ]

E hoje, visitando meu quintal, fiquei um tempo observando as flores minúsculas que crescem aqui e acolá, espontaneamente. São tão pequenininhas e tão, tão, tão encantadoras, complexas, detalhadas. Perfeitas. Olhar para o micro também me posicionou nesse piscar de olhos cósmico. De alguma forma, adentrar a escala dessas florzinhas me fez sentir a potência do "pequeno", e me fez rodopiar pelos meus conceitos de grandeza - e pequeneza.

Pensei no raciocínio de catedral, a coisa de construir algo grandioso que jamais verei pronto, o que me leva a pensar nos conselhos de "pensar grande", "sair da zona de conforto" - e o que essas florzinhas me contaram é que o GRANDE é composto por inúmeros pequenos, cada um complexo, detalhado, perfeito e inteiro em si.



Deixo uma música pra finalizar... Ótima, da Flaira Ferro


... que nada nos distraia do amor

nem mesmo as vitórias da vida!




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