quinta-feira, 21 de junho de 2012

metrópole

Saiu do consultório com o ombro carregado de dúvidas e o coração esvaziado de vontades.

A rua, cinza e hostil, era o campo de batalha a ser vencido para chegar em algum lugar que trouxesse um mínimo alento que fosse.

Buscou alguma vontade, mas todas pareciam traiçoeiras. O que fazer quando não podemos confiar nem mesmo em nós mesmos?

Os passos apressados de quem não gosta de se atrasar mas sobrepõe compromissos deram lugar a um vagar quase sonâmbulo. A cada ponto de ônibus a dúvida, mais uma. Resolveu brincar de roleta russa, deixando as rédeas da vida nas mãos do acaso. E o disparo estava vazio.

Celular a postos, esse amuleto da modernidade, no qual depositamos nossas esperanças. Agarrada a ele esperava um eco, um sinal. Pensou naquela amiga com a qual poderia rir e chorar. Poucos quilômetros as separavam, mas a complexidade da relação tempo e espaço forma um emaranhado do qual poucos saem vivos.

Entrou no cinema e encontrou na história alheia motivo para explicar suas lágrimas. Buscou calor num copo de capuccino. O troco veio errado, mas resignou-se, não havia força para lutar por um real.

Chegou em seu prédio clamando por um elevador vazio, pois suas forças não seriam suficientes para um mínimo aceno de cabeça, menos ainda para palavras pseudo cordiais acerca da chuva. Com as chaves na mão deu um suspiro, olhou-se no espelho enquanto era carregada até seu porto seguro.

Comeu mal, jurando começar uma dieta na semana que vem. Não ligou a TV nem o computador. Nem mesmo uma música, um livro, nada. Deixou-se desabar na cama, já sem as lágrimas que gastara com a história alheia.

Deu folga ao despertador, dormiu o quanto pôde.

E preferiu a certeza das dúvidas à ilusão das certezas.

2 comentários:

  1. fico muito feliz e lisonjeado de compartilhar minha vida com a sua...Adorei o texto! Acho que o livro estar por vir... Te amo!

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    1. Felicidade sem fim e recíproca! Um dia o livro chega... te amo, tanto, tanto!

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