terça-feira, 26 de abril de 2011

Como se faz um mundo melhor?

Desde que me entendo por gente eu me faço essa pergunta. Na verdade, faço de forma mais direta: o que eu devo fazer para tornar o mundo melhor? Posso dizer que essa é a minha grande guia na vida e que tornar o mundo melhor é o meu grande objetivo, meu propósito.

Então tudo o que eu puder fazer para deixar o mundo melhor, eu farei. Os métodos podem mudar, as ferramentas podem ser trocadas, melhoradas, afiadas, desde que o rumo a seguir permaneça o mesmo. Isso é um propósito.

É óbvio que o primeiro passo para tornar o mundo melhor é eu me tornar uma pessoa melhor. E por isso tenho buscado formas de me aprimorar enquanto ser humano. Depois de experimentar alguns caminhos, encontrei meu porto seguro, o Método DeRose - já falei sobre essa trajetória aqui. Tenho praticado este Método há três anos e há quase um ano atuo também como Instrutora, pois essa foi mais uma forma que eu encontrei para tornar o mundo melhor: ajudar as pessoas a tornarem-se melhores.

Eu não gosto quando dizem que o mundo é perfeito e o que estraga são as pessoas. Ou que nós, seres humanos, nascemos com um defeito de fabricação. O "problema" não é da humanidade, afinal, muitos povos são capazes de viver em plena harmonia com o planeta. Mas existe algum mistério na nossa sociedade capitalista-patriarcal que faz com que a gente acredite que é o ser humano que tem defeito. Não é. Quem me fez enxergar isso foi o Daniel Quinn (já falei sobre ele aqui também) e não vejo a hora de reler Ismael para poder contar essa história melhor.

Enfim, se o mundo precisa ser melhorado, o que precisa melhorar são as pessoas, porque não vejo nada mais a mudar (se bem que se extinguíssemos algumas espécies como carrapatos, micuins e borrachudos a chance do mundo se tornar melhor também aumentaria, hehe... mas deixa isso pra lá senão apanho dos meus companheiros ambientalistas!).


E seguindo a linha de raciocínio que atua na causa, ao invés de mascarar efeitos ou correr atrás do prejuízo depois que a *** já foi feita, que tal se "fizermos" pessoas melhores?!

Toda essa mega introdução para dizer com todas as letras que agora eu sou uma ativista do parto humanizado, que eu sou uma ativista da fórmula peito + colo e que eu sinto cada vez mais que investir nesse projeto de longo prazo (fazer pessoas melhores) vale a pena!

Quem me trouxe esse mundo encantador foi a minha amiga, cunhada e comadre Carol Mendes, mãe da Clara. Tenho aprendido coisas incríveis com ela (com elas!), principalmente em dois grandes momentos: o nascimento da Clara, do qual fui acompanhante e fotógrafa e a leitura (ainda incompleta) do livro "A maternidade e o encontro com a própria sombra", de Laura Gutman.

Sobre o nascimento da Clara escrevi aqui no Aralume. Mas só pra adiantar: foi em casa, foi longo, foi intenso, foi lindo, foi transformador. Várias pessoas (re)nasceram naquele dia!

Sobre o livro, acho que todo mundo deveria ler: mães, candidatas a mães e quem não quer nem saber de ser mãe; pais, candidatos a pais e quem não quer nem saber de ser pai. Se você convive com uma gestante ou com crianças pequenas, eu diria que a leitura é mesmo obrigatória, caso você compartilhe do meu propósito de tornar o mundo melhor. Afinal, não são só os pais que fazem as novas pessoas...

A minha irmã Ana Clara fala que o grande problema do mundo é que as pessoas são muito carentes e que por isso acabam fazendo as maiores besteiras. Eu concordo. E o livro da Laura Gutman nos mostra como fazer para formar pessoas seguras, autoconfiantes, com um emocional forte. A fórmula é tão simples quanto polêmica: peito + colo. Peito não é só alimento e colo não é "manha". Segundo ela, até os dois anos não existe lugar melhor no mundo para um bebê que não seja o colo da mãe (inclusive enquanto dorme!), de preferência com um peito na boca.

E não sei de onde vem a ideia de que não pode "acostumar" a criança no colo... é justamente o contrário! Uma criança que tem uma base emocional bem suprida vira um adulto forte e confiante. O que mais precisamos para fazer um mundo melhor?

Espero que você tenha entendido que a minha bandeira não é sair fazendo filho, por mais "bem feito" que ele seja, mas sim ajudar a informar aqueles que estão caminhando naturalmente para essa empreitada, pois muitos dos erros* não são cometidos "por mal", mas por pura falta de informação. Eu iria até mais fundo, dizendo que esses erros* são cometidos por causa de uma desconexão muito grande com a própria intuição, por insegurança, por medo, por um emocional fraco e carente... e tudo isso pode - e deve - ser trabalhado, o que beneficia as próximas gerações. Isso sim é sustentabilidade ;)


* sobre "erro": a dualidade entre certo e errado é perigosa, já que a diversidade faz com que fique difícil estabelecer esses limites. Por isso é importante buscar os caminhos internos, o autoconhecimento, pois só assim você saberá o que é certo e o que é errado. Pra você.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Iniciação da Clara à natureza


O termo "iniciação" só me veio agora e acho bem mais adequado do que "batizado". Como minha sogra diz, "só o padre que batiza". Mas a Clara foi arrumar uma madrinha rebelde e eu não deixei barato.

Dizem as boas línguas que eu e minha irmã fomos batizadas na beira de uma cachoeira (uma cachoeira muito especial, diga-se de passagem, que fez parte da nossa infância e adolescência...). Quem fez as honras foi nossa avó materna, Guaraciaba, que tratava os filhos e a si com homeopatia. Não, ela não foi a fundadora do movimento hippie!

Enfim, tenho uma gratidão eterna à minha mãe e a todos que participaram da decisão de não nos incluir no "pacote" dos rituais católicos. Decisão totalmente coerente com a realidade em que eles viviam e às crenças que tinham. Talvez por isso, nunca me interessei muito pela religião católica e nunca me senti deslocada nem "em falta" por não fazer parte dessa cultura. Não fui batizada (por um padre), não fiz catecismo, nem crisma, não casei na igreja e fui a pouquíssimas missas (aquelas dos casamentos de amigos católicos!).

Aí me chegam meus queridos cunhados com o lindo convite para que fôssemos padrinhos da Clara! Não tem como não se sentir imensamente lisonjeado com um convite tão especial desses, por mais que não se faça parte do cenário em questão... e detalhe: o convite foi feito na presença da minha sogra, católica convicta. Saia justa, claro.

Não respondi na hora e houve um certo constrangimento no ar, já que todos esperavam abraços e lágrimas... passei o dia "matutando" um discurso que, felizmente, consegui fazer, na presença de todos. Acho que fui delicada; acho que não ofendi ninguém; acho que deixei tudo muito claro. O que eu queria mesmo era fazer o tal batizado "do meu jeito", mas não teve acordo. Então cedi.

E foi muito bom ceder, uma vez que eu já havia colocado todo o meu ponto de vista. Esta é a diferença entre ceder e engolir sapo. Esse sapo eu, definitivamente, não engoli. Só que acabei colocando uma condição, sutil, mas que virou uma condição. Antes do batizado na igreja, iríamos fazer uma viagem juntos. Pronto, foi aí que começou a nossa aventura para o Saco do Mamanguá!

Íamos em dezembro, mas precisamos adiar e acabou ficando para abril. Foi ótimo porque a praia era só nossa, não choveu, fez sol o tempo todo e uma lua cheia fantástica (que trouxe aqueles infernais "porvinhas"!).

O ritual do "batizado" foi meio que inventado na hora, improvisado. Nesse dia, pela manhã, eu perguntei qual era o objetivo do batismo e o Marcelo disse que era como que um passaporte para determinado grupo, geralmente com conotações espirituais. Como eu já aboli essa tendência da minha vida há algum tempo, ficou muito nítido pra mim que aquela viagem toda era a iniciação (por que só fui pensar nessa palavra agora?!) da Clara à natureza! Ao sol, ao sal, à areia, à terra, às folhas, ao vento, à lua, às águas, aos bichos. Não que ela nunca tenha tido contato com essas coisas, mas ali estavam todos os elementos juntos, com mínimas interferências humanas, o suficiente para assegurar nosso conforto, o suficiente para que ela se sentisse acolhida e tivesse vontade de voltar.

Fomos para a praia ao entardecer, a lua nascendo. As estrelas foram aparecendo. A Clara um pouco inquieta, talvez por causa dos "porvinha". Mas faz parte... isso é realidade. O "grande lance" do contato com a natureza é saber desfrutar da paisagem e interagir com ela, independente da temperatura (muito frio, muito calor), dos bichos (eles estão no lugar deles), das distâncias (quanto mais longe, mais puro). Minhas experiências sempre valeram a pena e é isso que desejo para a Clara! Desejo de madrinha: que você transite com desenvoltura e integração pelos ambientes naturais, pois é lá onde você deve buscar (e certamente encontrará) a sua essência.

Embora não tenha sido planejado, o batizado de uma mulher sob a lua cheia também é bastante simbólico. Havia o resplendor da lua, símbolo máximo do feminino; estávamos cercados de muita água, também símbolo do feminino; pairando no ar uma introspecção com poucas (e boas) pessoas, sem energia elétrica, os cães quietos em volta. Uma vela trazia o fogo, indicando a presença do masculino, junto com o pai e o padrinho. Lindo, forte, simples.

Bem, eu até ia fazer um relato de viagem mesmo, com dicas e etc, mas o texto tomou outro rumo! As fotos estão no nosso álbum do Picasa e o contato para alugar as casas é com a Kalinka (mamangua@gmail.com). Sinta-se à vontade para me pedir as "dicas e etc" ;)

sábado, 9 de abril de 2011

Quem viu mais sabe mais


A pessoa que falou essa frase foi a Zezé e isso foi há muitos anos, lá no comecinho da década passada, em uma palestra que ela deu aos alunos do curso de Engenharia Florestal da ESALQ. A Zezé é uma verdadeira lenda viva da área florestal, pesquisadora renomada, sem papas na língua e divertidíssima. Com toda naturalidade ela soltava frases fortes, polêmicas e cheias de palavrões, no meio daquele ambiente austero da tradicionalíssima Luiz de Queiroz, fazendo cabelos brancos ficarem de pé e jovens idealistas gargalharem pensando "ufa, tem alguém interessante por aqui!".



A frase que inspira esse texto não é assim tão forte, muito menos polêmica e não tem nenhum palavrão, só que ela me marcou muito, pois virou minha principal justificativa (se é que precisa de alguma) para viajar. O recado que a Zezé queria dar aos novos estudantes era: saia da sala de aula, saia da biblioteca, saia da frente do computador, saia do seu quartinho e veja o mundo. Claro que o conhecimento teórico era importante (mesmo porque se ela falasse o contrário poderia ir direto para a fogueira, rs...), mas ela queria enfatizar que muitas vezes uma simples paisagem explicava muito mais rápido, de forma muito mais divertida e até definitiva, o que os livros e as aulas levavam horas e horas, para depois da prova aquelas informações evaporarem da cabeça.



E não é só a paisagem "física", tem também o contato humano, o aspecto cultural (ok, muitas vezes eu dispenso esse contato e tudo que eu mais queria era aquela cachoeira "só pra mim" =D). Lembre-se que esse contato humano inclui também e principalmente seus companheiros de viagem. Meu pai fala que você só conhece mesmo uma pessoa quando sai para viajar com ela. E é por isso que costumo colocar meus amigos em algumas "roubadas", como acampamentos, barcos em mares revirados, estradas longas, esburacadas e enlameadas, casas precárias, trilhas exaustivas, companhia de cachorros molhados, quartos de albergues... felizmente até hoje não tive decepções e todos os meus companheiros de aventura se saíram muito bem!



Quanto mais adversa a situação, melhor para conhecer as pessoas, inclusive você mesmo. Em viagens o imprevisto é eminente e você treina o jogo de cintura. Mas não se assuste, pois muitas vezes aquela situação que na hora foi indesejada, vira uma divertida história pra contar. A tendência é que tudo dê certo e para isso você precisa estar atento, sempre alerta ;)



Sinto que quando estou viajando meus poros se dilatam, os "sete buracos da minha cabeça" ficam ávidos por sensações, por registros daquela experiência. Tudo isso é processado pelo corpo, pela mente, pelas emoções e vai construindo sabedoria.



No cotidiano isso também pode acontecer, mas precisa de mais atenção para não cair no piloto automático. Tanto que uma coisa que gosto bastante é viajar sem sair da minha cidade. Passear pelas ruas sem aquela pressa, sem a lista de afazeres. Prestar atenção nos prédios, nas pessoas, nas árvores. É um exercício bem bacana, que também dilata os poros, as pupilas, boca, narinas e orelhas.



Mas o bom mesmo é uma paisagem nova! E é por isso que semana que vem vou atrás de uma. Paisagem nova e companhia nova, ou seja, grandes experiências à vista! O Aralume sairá de férias por uma semana e na volta prometo compartilhar com você as sensações e as fotografias ;)


As imagens que ilustram essa postagem estão no nosso álbum do Picasa, com as respectivas legendas.