sábado, 19 de junho de 2010

O dia em que você nasceu

Clara, o dia em que você nasceu começou, pra mim, exatamente vinte e quatro horas antes do momento em que você viu a luz do sol pela primeira vez. Começou quando sua mãe me ligou, às 13h05 do dia 16 de junho, dizendo que já estava com contrações - desde as 10h. Ela estava tranquila, disse que já tinha conversado com a médica, a Dra. Betina, e que as instruções eram para ela agir normalmente, que poderia até passear com os cachorros!

Eu fui uma das primeiras pessoas a ser avisada porque recebi a nobre incumbência de fazer o registro fotográfico do momento. Não, eu não sou fotógrafa profissional... deixa eu te explicar essa história: o seu tio Paulo Cesar, irmão da sua mãe e meu marido, é um fotógrafo "quase" profissional; "quase" porque ele não ganha dinheiro com isso, mas até poderia se quisesse. Enfim, ele tem talento, sensibilidade, um bom equipamento fotográfico e é uma pessoa muito querida dos seus pais, requisito principal para estar presente nessa hora. Só que um outro requisito importante ele não tem (pelo menos não por enquanto, mas se quiser ser pai um dia vai ter que dar um jeito nisso!). Ele não conseguiria lidar com visões de sangue + emoção exacerbada. E foi aí que eu entrei, meio que por impulso, disse na hora: "eu fotografo!".

Seus pais ficaram preocupados em como essa experiência influenciaria a minha decisão de ser mãe... mas sobre isso a gente conversa outra hora ;) De qualquer forma, acompanhar o processo da sua gestação foi muito enriquecedor. Seus pais foram muito empenhados em saber tudo o que se passava e o que se passaria; em entender o que isso significava, de fato; em fazer com que sua vida fosse cercada de amor e aconchego, desde o tempo em que você estava lá na barriga da sua mãe e principalmente no grande momento de nossas vidas, que é o nascimento.

E foi pensando em tudo isso que eles optaram pelo parto natural, em casa. Espero que quando você já tenha idade para ler e entender esse texto, sua reação seja: "ué, mas não é assim mesmo?". Infelizmente por enquanto não... por enquanto o "normal" é que a mãe vá levando a gravidez, até o momento em que sente que "chegou a hora", aí chama o marido, correm pro hospital, entram numa onda frenética de exames, médicos, enfermeiros, roupas azuis, toucas, luvas, luzes, macas, anestesias, bisturis... ... ... pronto, nasceu! A mãe, cortada e costurada; o bebê sem saber o que está acontecendo, em um mundo estranho e hostil.

Mas se os pais quiserem evitar essa correria, também podem fazer o parto com hora marcada, e aí fica tudo muito mais tranquilo... poxa, Clara, você esqueceu de avisar que horas ia nascer!

E foi justamente porque você não informou esse dado importante, que eu e seu tio fomos de Itu pra São Paulo com certa correria, mas não muita, porque sua mãe estava realmente tranquila, dizendo que não tinha motivo pra pressa. Deu tempo de eu participar da comemoração da minha mudança de grau no Método DeRose, pois agora sou Instrutora! Pegamos uma flor e pé na estrada.

Quando chegamos na sua casa, do lado de fora já dava pra sentir um cheirinho de lenha. A sala estava quentinha, com a lareira acesa; cobertores e almofadas pelo chão e sua mãe se contorcendo... a essa altura era meia noite e ela estava com muita dor. Eu e seu pai nos revezamos na madrugada, fazendo companhia pra ela e tirando uns cochilos; fazendo chá, trazendo água, ouvindo seu coração, cronometrando os intervalos entre as contrações, que foram ficando cada vez mais fortes. A Dra. Betina também veio logo, mas como estava tudo bem, ela foi dormir um pouco, no quarto ao lado, pois tinha acabado de sair de outro parto...

Amanheceu e as contrações foram ficando mais intensas, tivemos que acordar a doutora. Sua mãe foi pro chuveiro (na verdade, ela entrou e saiu do chuveiro várias vezes, pois a água trazia algum conforto). Sua tia Valéria veio também e, como o plano era ter uma banheira à sua disposição, para caso o parto fosse na água, nós começamos a árdua tarefa de enchê-la. Panelas no fogão, baldes no chuveiro, sobe escada, desce escada (pra ajudar, sua casa é um sobrado).

Mas o banquinho da Betina ganhou da banheira e sua mãe só entrou nela pra eu tirar umas fotos, hehe! (brincadeira... ela nem conseguia pensar em fotos... mas é claro que eu aproveitei o fundo azul pra algumas tomadas!). Lá pelas 10h da manhã, depois de 24 horas em trabalho de parto, sua mãe estava exausta. Ela dizia que não aguentava mais e que não iria conseguir. Eu sabia que conseguiria. E a Betina também, tranquilizando e, ao mesmo tempo, fortalecendo sua mãe, para que ela se mantivesse presente. Vocês duas estavam muito bem amparadas.

Seu pai também teve um papel fundamental nisso tudo, sempre perto, sempre junto, também passando tranquilidade e força à sua mãe. Logo chegou seu médico, o Dr. Cacá, que também é uma pessoa muito especial. O time estava quase completo, só faltava você!

E era 13h do dia 17 de junho quando você, finalmente, chegou! Ver você nascer foi a experiência mais emocionante da minha vida. A sua carinha amassada e linda arrancou lágrimas de todos. Você chegou em silêncio e foi direto pro colo da sua mãe; seu pai abraçou vocês duas e talvez o choro dos dois tenha te feito chorar também, um chorinho melódico.

Quando o cordão umbilical parou de pulsar, ele foi cortado pelo seu pai que, corajoso, passou uma lâmina muito afiada, separando fisicamente você de sua mãe... chega uma hora em que é preciso. Você foi com o Cacá e nós levamos sua mãe para o quarto, mas logo você já voltou pra ela de novo. Em seguida você tomou seu primeiro banho, no balde, enrolada num cueiro, a coisa mais linda! Você estava tão quietinha, com os olhos abertos, fazendo caretas e até sorrisos!

Sua mãe precisou de mais cuidados... ela estava fraca, exaurida, mas muito, muito feliz. Todos estávamos orgulhosos dela, da força que ela teve pra te proporcionar um nascimento digno, amparado, natural.

Clara, o dia em que você nasceu foi mágico. Você nasceu em uma casa alegre, rodeada por pessoas que te amam muito e que se amam muito. Diante disso tudo, qualquer coisa que eu deseje pra você parece tão óbvia que vá realmente acontecer, que nem tem muita graça desejar. Mas eu desejo mesmo assim!

Clara, eu desejo que você saiba sempre reconhecer o quanto sua mãe é importante na sua vida e o quanto ela se doou (e ainda vai se doar muito), para que você possa ser uma pessoa plena e feliz; eu desejo que você seja muito amiga da sua mãe e do seu pai, porque eles são pessoas incríveis, que vão te ensinar muito e vão aprender muito com você; eu desejo que você goste de natureza e prometo fazer a minha parte pra te proporcionar os melhores banhos de cachoeira e de mar, os melhores pores e nasceres do sol, as melhores luas cheias e os melhores céus estrelados; eu desejo que você tenha sempre consciência do privilégio de fazer parte dessa família alegre e acolhedora, composta de mãe, pai, avós, avôs, tios, tias, primos, primas, bisavós, tios avós, cachorros, etc... e todos muito "gente boa"; eu desejo que você saiba cuidar do nosso planeta, das nossas plantas e dos nossos bichos, e também das nossas pessoas; eu desejo que você encare com coragem a missão de ser mulher, que não é nada fácil, mas é encantadora.

Seja muito bem vinda!

PS - e hoje, 19 de junho, é um dia também muito especial, pois seu tio Paulo Cesar comemora mais uma volta em torno do sol! Parabéns, meu amor! Além dele, fazem aniversário hoje também o Pajé, nosso cachorro, com quem você ainda vai brincar muito, e o Chico Buarque, grande compositor e escritor, dono de um charme que ainda vai te arrancar suspiros! Eita turminha boa de geminianos!

2 comentários:

  1. Oi Carol!!
    Nossa que emoção o nascimento da sua sobrinha Clara, parto em casa realmente deve ser uma coisa maravilhosa mas que precisa de muuuita coragem da mãe!!
    Vcê sabe que sou a maior fã do seu blog, dos seus textos, adoro, fico aqui me deliciando.Acho que vcê deveria escrever um livro se é que já não o fez.
    Apesar de breve foi ótimo encontrá-los no sesc Pinheiros, aliás que linda apresentação né?Adorei!É isso, vamos caminhando por enqto ainda estou de licença maternidade em casa, cuidando do meu pequeno Tom com muita alegria.Grande beijo, Bia.

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  2. Oi Bia, que bom te encontrar por aqui! Qualquer hora eu me arrisco a escrever um livro... mas eu gosto de falar sobre tantas coisas, que não consigo ainda vislumbrar como seria um "livro com cara de blog", rs...

    Nossa, o show foi demais mesmo... era pra Clara ter ido, na barriga da mãe, mas ela não aguentou esperar. Pelo menos chegou um dia antes e deixou a gente ir ;)

    Aproveita aí a dedicação 100% mãe, que deve ser uma delícia mesmo (embora eu esteja bem sem coragem pra encarar, hehe). Beijão!

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