segunda-feira, 19 de julho de 2010

A proposta é cada um come o que gosta!

Antes de mais nada, o prazer de se alimentar! Independente do que você come, o importante é saborear, é sentir prazer e sentir que aquele alimento nutre não só o corpo físico, mas também a "alma". Para isso é importante estar com todos os sentidos presentes enquanto nos alimentamos, e não apenas o paladar (muitas vezes até ele é negligenciado...). Cuide de fazer um prato bonito, colorido, suculento; sinta o aroma da comida; perceba as diferentes texturas; e como comer com a audição? Se é você que prepara sua comida, fica fácil: tem aquele barulhinho inconfundível da cebola na panela, o chacoalhar das folhas recém lavadas, a cenoura no ralador... depois enquanto mastiga, cada alimento produz um som (guarde-o para você, rs...) e tem também o som do ambiente onde você come: perceba que comer em locais barulhentos faz com que a comida fique menos gostosa.

Alimentando-se com consciência fica fácil comer menos porcaria, porque você está realmente prestando atenção no que come e como come. Ajuda muito preparar a própria comida, conhecer os bastidores! Esse processo começa na escolha do cardápio e escolha dos ingredientes (no caso dos ingredientes frescos, muitas vezes eles que definem o cardápio... não adianta você escolher uma super receita com brócolis, se ao chegar no mercado não o encontrar...). Depois vem a parte da cozinha, manuseio, "timing", "feeling". Não adianta, por mais que você siga a receita à risca, seu macarrão nunca vai ser igual o da sua vó, rs... mas aí você acaba descobrindo as suas especialidades, e isso é muito gostoso!

A rotina na cozinha pode ser meio cansativa (como toda rotina), então se você não tem muita prática, escolha um dia especial para cozinhar, sem pressa. Se puder congelar, facilita o dia a dia. Aos poucos você vai aumentado suas "horas de voo" e quando se der conta, estará fazendo quatro pratos ao mesmo tempo, saborosíssimos e saudáveis. Talvez veja até uma economia no orçamento mensal, pois comer fora é bem mais caro do que fazer a própria comida. Com essa economia você pode frequentar restaurantes diferentes, experimentar novos sabores e novos chefs. Isso também ajuda a incrementar o seu repertório, além de ser um momento de lazer!

Eu não sou nutricionista, nem nutróloga, nem tenho conhecimentos aprofundados no assunto, mas para mim uma refeição saudável tem como quesito básico ser variada. Uma médica antroposófica me disse uma vez para sempre compor o prato com uma flor, uma folha, uma raiz, um fruto e um grão (sementes, cereais). É uma regrinha fácil e ajuda até na hora de pensar nos cardápios. Claro que é importante variar também entre as refeições e isso estimula a criatividade. Que outras flores comestíveis existem, além da couve flor e do brócolis?!
No meu prato não entra carne, de nenhum tipo, de nenhuma espécie. Há diversas teorias sobre o assunto e no fim a decisão é bem pessoal (lembre-se: a proposta é cada um come o que gosta!). Eu não sinto falta, eu não sinto vontade, então não como; simples assim. Com essa decisão eu tirei da minha dieta menos de 10 itens (boi, porco, frango, peixe, camarão, ostra, mariscos...). Por outro lado, me alimento de uma infinidade de folhas, frutos, flores, raízes e grãos. Continuam no meu cardápio os laticínios e ovos, ainda que este último cada vez em menor quantidade. E nem me venha com esse papo de "e a proteína?". Os vegetais tem muita proteína e não precisa virar um soja-maníaco! Mantendo os laticínios também fica mais fácil...

Mas independente do seu gosto e opção por uma teoria alimentar, devo alertá-lo que reduzir o consumo de carnes (atenção, eu disse apenas reduzir e não excluir), é uma necessidade coletiva cada vez maior. O balanço energético para a produção de carne é negativo (o gasto é maior do que o resultado), há um consumo absurdo de espaço, água, energia; florestas são derrubadas para dar lugar a pastagens ou plantações de soja que acabam virando ração para alimentar quem? O gado... A pressão de pesca nos oceanos é responsável pela ameaça de inúmeras espécies, tanto as usadas comercialmente, quanto aquelas que sofrem as consequências, tanto diretas (golfinhos e tartarugas presos em redes e anzóis) quanto indiretas (desequilíbria da estrutura de cadeia alimentar). Mesmo as criações de pescados em cativeiro, assim como de aves e porcos, são extremamente poluentes, lançando na água e solo esgoto contaminado com hormônios.

Não quero fazer terrorismo, mas já que comecei o texto falando de se alimentar com consciência, é importante saber que a alimentação não começa na sua mesa, não começa na cozinha, não começa no supermercado. Ela começa láááááá atrás, no campo, nos rios, nos mares.

Se você acha que é importante comer carne, coma, mas coma menos, coma carnes de qualidade. Como um frango caipira, um peixe pescado pelo caiçara que vive disso e sabe como pescar para que nunca falte. Tem até o "boi verde"... isso significa que a produção tem diversas preocupações ambientais, inclusive a preservação de rios e nascentes da propriedade. No caso de ovos e laticínios, a mesma coisa. A não ser que você seja vegano (alimentação estritamente vegetariana), não está livre de pensar nos modos de produção pecuária.

E finalizo chamando a atenção mais uma vez para os alimentos orgânicos. Mesmo adotando uma dieta sem carnes e até sem derivados animais, não estamos "em paz" com o impacto da nossa alimentação. Os agrotóxicos são extremamente poluentes, para o ambiente e para o corpo de quem consome. Sei que não é tão fácil de achar e muitas vezes é caro, mas se você conseguir ser mais um a apoiar esse consumo, a tendência é ele ir crescendo e ficando cada vez mais acessível.

Cada um vai até onde dá, cada um consegue fazer as mudanças a uma velocidade, não precisa - e nem deve - ser tudo de uma vez, mas keep walking. Quando você se der conta, estará até cultivando algumas hortaliças em casa!

2 comentários:

  1. "Parte 1" rsrsrs...

    Cá, adorei a matéria, ainda mais que já faz um tempinho que venho tentando atualizar meu gosto pela cozinha, o que inclui tudo o que você disse. E (eu já sabia, mas...)não consigo gostar de cozinhar sem dispor da maravilha de formas, cores, texturas, variedade, aromas e sabores...dos vegetais!
    Também é bom lembrar a importância (espiritual, mental e física) de evitarmos o desperdício.
    No meu tempo de retiros no mosteiro zen budista, aprendi a oração:"Quando comemos e bebemos, rezamos junto com todos os seres. Comer é a alegria o Zen".E não é "qualquer um" nem de qualquer jeito que se preparam as refeições - pelo contrário, é um os mais elevados e honrosos treinamentos da atenção ao aqui e agora. Por falar nisso, estou curtindo bastante o blog da Sonia Hirsh! Beijo da mãe!

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  2. Oi mãe, ótimas colocações! Fora o que você já falou, depois também pensei que ficou de fora o "você é aquilo que come". Enquanto a gente não viver de luz (pelo menos diretamente), vale a pena investir nas formas indiretas de luz que nutrem o nosso ser ;)

    Também adoro as coisas que a Sônia escreve e tenho espiado o "faz bem, é fácil e natural", que está listados nos blogs que acompanho, na barra do lado direito... indicação da Sônia!

    Beijodafilha!

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