terça-feira, 1 de junho de 2010

Direto do front


Há uma semana eu estou em trabalho de campo... fazia tempo que eu não ficava tanto tempo em contato direto com árvores, chuva, lama e cia. Estamos em uma equipe de oito pessoas, entre engenheiros florestais, biólogos, gestores ambientais e técnicos de campo, instalando parcelas para monitoramento de vegetação, por conta de uma obra que vai ser iniciada em breve.

Para quem não sabe o que faz um (a) engenheiro (a) florestal, vou contar um pouco. O leque de atividades dessa profissão - como muitas - é vastíssimo. Existem três grandes áreas, e dentro delas muitas nuances. Essas áreas são: silvicultura (trabalha com plantio de árvores para fins comerciais, geralmente eucalipto e pinus, mas nativas também, como guanandi, e outras exóticas como teca e mogno africano); tecnologia da madeira (trabalha com fabricação de chapas, compensados, OSBs, MDFs e muitas outras coisas que, sinceramente, não sei - ai que feio!); e ecologia aplicada, área na qual eu me especializei e que considero bem mais ampla que as anteriores (pode ser "puxasaquismo" meu, rs...).

Tenho trabalhado bastante ultimamente com desdobramentos de licenciamentos ambientais. Qualquer pessoa - física ou jurídica - que for fazer uma intervenção no meio ambiente, precisa pedir autorização pro órgão ambiental (CETESB, no Estado de São Paulo). Dependendo da escala da intervenção basta comunicar ao órgão, ou então podem ter as mais diversas compensações ambientais... e é aí que eu entro!

No caso específico desse trabalho que estou fazendo agora, será uma obra de grande porte, então uma das exigências do órgão ambiental é que a vegetação do entorno seja monitorada, para que se estude o impacto da intervenção... e aqui estamos nós, monitorando árvores adultas, jovens e bebês... na prática isso significa que estamos instalando 36 parcelas de 10 x 10 m + subparcelas de 10 x 2 m para amostragem da regeneração (mudas). Em cada uma dessas parcelas a gente plaqueia, mede e identifica as árvores e as mudas; faremos esse acompanhamento por três anos.

Falando assim parece fácil - e na realidade até é, rs... mas o trabalho de campo envolve lidar com burocracias (autorização da autorização da autorização); com logística (alugar carro, reservar hotel, providenciar comida, providenciar toda sorte de equipamentos e materiais); com imprevistos, muitos imprevistos; com contratempos, muitos contratempos! Com estradas elameadas (isso é legal =D ).

Aí quando a gente consegue, finalmente, chegar no campo, chove. E na chuva não dá pra anotar, o papel fica uma meleca, por mais que se usem saquinhos, guarda chuva e capa (existem papéis próprios pra escrever debaixo de chuva, mas isso é coisa de engenheiro florestal gringo, rs...). Fora o frio que faz no alto da serra... mãos e pés molhados.

Mas é uma delícia. Claro que com frio nada é delícia, mas o trabalho, de forma geral, é muito gostoso. É estar literalmente, completamente, extremamente dentro da natureza. Não é pra qualquer um; não é pra qualquer uma. Tem que ter boa resistência física, psicológica e emocional; tem que ter paixão; tem que saber "o que eu tô fazendo aqui?!". Eu me faço essa pergunta pelo menos umas 14 vezes por dia... às vezes eu sei, às vezes não... às vezes eu acho que sei... mas o importante é continuar perguntando e continuar buscando as respostas... enquanto fizer sentido.

8 comentários:

  1. É isso aí, Cá!
    Te admiro e tenho muito orgulho de você!
    Keep working =)

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  2. Oi minha linda... Gostei muito da sua postagem, embora eu saiba que não está sendo fácil esse front, eu sei que aí dentro de você tem uma mulher incrível, com muita garra e força. Estou morrendo de saudade e prometo que vou te paparicar muito quando voltar para nossa casinha. Muitos beijos e lambidas aqui do pessoal de casa. Te amamos!!!!

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  3. Filha, imagine que tolinha: comecei a ler achando que teria uma matéria técnica, muito útil,com informações que eu queria mesmo ter, até para responder melhor quando alguém me pergunta como é o seu trabalho. E pronto.
    Acabei com lágrimas nos olhos, pois no final, você deixa claro o que é o nosso verdadeiro trabalho nesta vida...
    Beijo da mãe, relendo Bhagavad Gita, tomada pelo "Ismael" ... tá explicado?

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  4. Ana, obrigada! Também te admiro muito! How luck we are!

    Paulo Cesar, também te amo muito e estou com saudade de todos os "meus meninos". Beijos e mais beijos pra você e dá uns apertões no Preto e nas bochechas do Jawa!

    Mãe, até que tem umas informações técnicas, rs... ;) Beijo, te amo!

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  5. Oi Flor,

    Achei tão bacana o seu texto, você sabe como eu sou fã e apaixonada por 2 engenheiros florestais e uma engenheira. A profissão é realmente incrível, mas são vocês que dão um toque muito mais especial, além do charme peculiar de cada um, é claro!
    Fiquei com tanta vontade de ir para o meio do mato, tomara que logo e a gente conseiga retomar nossos passeios.
    Tenho uma novidade importante para compartilhar: minha banca vai quarta -feira , vou me tornar oficialmente uma geógrafa. Consegui parir o TGI antes da minha filha, oba!
    Por último, quero te dizer que seus textos me trazem sempre uma reflexão muito importante e esperança e que eu tô com muita saudade de vocês!

    beijos,
    Carol

    Ps: Tem uma roupa para o Jawa aqui comigo, presente da madrinha!

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  6. Oi filha, queria que você dissesse alguma coisa dessa foto linda que você colocou nessa postagem.
    É esse o seu front ?!

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  7. Oi Flor, parabéns pelo TGI! E você deve imaginar como eu não vejo a hora de levar a Clara pro meio do mato, rs... vamos retomar logo nossos passeios sim, é só o tempo de você e o Marcelo se habituarem com o sling, hehe! Obrigada pelos elogios e pela "audiência"... é uma honra ter uma fã como você ;)

    Mãe, essa foto é de uma das nossas parcelas, tirada "in loco" (com data e hora erradas, como você deve ter percebido, rs...). É a Mata Atlântica típica, com muitas samambaias e bromélias, bem úmida, com riachinho e tudo. O lugar é bem bonito!

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