sábado, 9 de junho de 2018

Invernar

A noite mais longa do ano se aproxima: o solstício de inverno, que marca o início da estação. Ao longo de todo o outono as noites vão ficando dia a dia um pouco mais longas... vamos adentrando a escuridão. A palavra do outono: desapego. Libertar-se, deixar-se leve, lavar a alma. E então, o inverno: recolhimento.

O trabalho já foi feito, agora, descansar.

E para descansar é preciso estar em casa, ou, pelo menos, sentir-se em casa. O recolhimento que o inverno pede é um recolhimento com conforto, com segurança e proteção. Em paz.

Quando penso nisso tudo imagino o seguinte cenário: lá fora, muito frio. Chuva, neve, muitas nuvens, enfim, frio! Dentro de casa, quentinho. Fogo na lareira, chaleira no fogão, biscoitos na mesa, legumes pra sopa, despensa bem forrada, a casa limpinha, pantufas, tapetes, banho tomado, roupa gostosa.

Nessa atmosfera sentimo-nos plenos, confiantes, justamente pela sensação de missão cumprida - por todo o trabalho realizado no outono - e pelo aconchego do lar que nos ampara. Podemos então aprofundar nossa conexão espiritual, uma vez que as partes mais "densas" do nosso Ser estão em conforto e harmonia, em paz.

No inverno o corpo se aquieta, a mente se aquieta. Tudo está mais quieto, a noite é sempre mais silenciosa.

Estar em harmonia com a natureza é perceber esses fluxos e deixar-se levar por eles. Não é preciso fazer nada. A vibração geral leva para o recolhimento. A atenção que se deve ter não é para recolher-se, mas para evitar escolhas que entrem em conflito com esse caminho. E não é difícil perceber, porque essas escolhas conflituosas sempre acabam demandando um investimento extra de energia. Sinal amarelo. Pare e observe. É isso mesmo que o fluxo da sua Vida está pedindo?

Tudo isso, é claro, numa observação ampla. Zoom out. Não quero dizer que devemos passar 3 meses do ano em casa, cultivando a espiritualidade profunda (ah, mas que seria bom, seria, hein?! rsrsrs...).

Essa é a tônica da época. O chamado geral.

Aproximando o zoom, podemos observar as fases da lua, que em um único mês passam pelas quatro estações do ano, no que podemos chamar de sua representação arquetípica. Lua nova, inverno; crescente, primavera; cheia, verão; e minguante, outono. Se estamos no outono E na lua minguante, prestenção, o desapego e a limpeza ganham ainda mais força. A mesma coisa para as luas novas do inverno.

O zoom pode se aproximar ainda mais, quando observamos o fluxo de energia ao longo do dia, que também passa pelas quatro estações. Noite, inverno; amanhecer, primavera; pleno dia, verão; entardecer, outono. Fica a dica, cuide das noites do inverno. Recolha-se. E perceba que esse recolhimento pede aconchego, segurança, sentir-se em casa. Claro que você não precisa estar em casa para sentir-se em casa.

Um bom programa para as noites de inverno é estar em um lugar gostoso, com companhias absolutamente agradáveis, de forma que ambos - o lugar e as companhias - te deixem completamente à vontade para que você não precise se preocupar com coisas "mundanas", como sua aparência, ou a forma como se expressa. E é nesse conforto, nessa fluidez, que a espiritualidade brota, no sentido de ter conversas mais profundas, mais nutridoras, mais inspiradoras, mais curadoras. Tudo com muita suavidade, sem "trabalho", simplesmente sendo. Ou, deixando ser.

Que lugares e que companhias te propiciam isso?

Onde e com quem você vai passar o seu inverno?

Onde mora o seu conforto? Onde está a sua segurança e a sua paz?

Recolha-se junto a eles.

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