Antes de mais nada preciso fazer algumas
considerações. Uma, na verdade. Até segundo aviso (e interesses comerciais das
empresas de telecomunicação) não tenho mais internet banda larga. E isso
significa que teremos algumas mudanças no estilo do Aralume. Antes eu escrevia on
line e ficava alternando a janela do blog com a do Google, checando letras de
músicas, poesias, pesquisando sobre datas, nomes, grafias, enfim, fazendo o
possível para que as postagens trouxessem informações completas e o mínimo
possível de erros e equívocos nas citações.
Agora eu escrevo off line (o que acaba sendo muito
bom, pois fico com um back-up instantâneo de cada texto no meu computador) e só
conecto para postar o texto já concluído, ou seja, no more Google. Claro que
quando eu quiser fazer um artigo mais detalhado vou pesquisar, mas isso será a
exceção, não a regra. Por outro lado, “descobri” que tenho ótimos livros e
revistas na estante!
Então vamos ao tema de hoje, motivado pela minha nova
morada, essa mesma que me priva de uma internet banda larga e que nos faz mudar
a forma de escrever e ler o Aralume.
Agora eu tenho um horizonte! Não sei a definição
exata do termo (preciso comprar um dicionário!), mas deve ser algo que abranja
a paisagem urbana, com seus telhados e antenas; deve ser algo que permita
incluir até aquela linha reta do muro a poucos metros da janela; deve ser uma
definição que faça com que todo mundo tenha um horizonte e que, portanto,
questione minha exclamação do início do parágrafo.
Mas, sabe, pra
mim, isso não é horizonte. Pra mim horizonte é o que enxergo nesse exato
momento: uma curva sinuosa que separa a terra do céu com silhuetas irregulares de
árvores que formam uma pequena floresta; logo abaixo um pasto com vaquinhas,
uma estrada de terra, uma cerca, um (um!) telhado, minha rua, meu portão, meu
quintal.
A poesia que mais me tocou até hoje fala sobre isso.
Aposto que você já sabe qual é...
(...) eu sou do
tamanho do que vejo
E não do
tamanho da minha altura...
Nas cidades a
vida é mais pequena
Que aqui na
minha casa no cimo deste outeiro
Na cidade as
grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o
horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos
pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos
pobres porque a nossa única riqueza é ver.
(O Guardador de
Rebanhos, Alberto Caieiro)
Eu não diria que nossa única riqueza é ver, pois amo
e usufruo prazerosamente da riqueza de cada um dos sentidos, mas compartilho
totalmente com a ideia de ser do tamanho do que vejo. E da mesma forma que
horizontes pequenos demais oprimem, os grandes demais podem nos deixar
perdidos... gosto de ter horizontes grandes demais de vez em quando, como uma
dose arrebatadora de grandeza e devoção, que renova e reabastece (lembre-se que
“pequeno” e “grande” são atributos totalmente relativos... só você pode dizer
se seu horizonte é grande ou pequeno!).
Percebendo meu horizonte de agora eu sinto que ele é
“do meu tamanho”. Antes eu não cabia no horizonte... ao invés de, como sugere o poema, eu me
adaptar ao horizonte, ficando grande ou pequena de acordo com a paisagem, eu
sentia como se estivesse com uma roupa de criança. Não, aquele horizonte de
muro não era pra mim!
Da porta pra dentro, abrindo caixas de papelão
cheguei nas das revistas. Sorteei uma Tpm de uma coleção considerável e veio a
revista de abril de 2008, exatos quatro anos atrás, quando eu estava
organizando a mudança anterior, começando a vida em Itu. Adoro essas
coincidências! Mas não para por aí: a editora convidada desta edição foi a
Fernanda Keller, triatleta campeã de não sei quantos Ironmans (3,8 km de
natação + 180 km de ciclismo + 42 km de corrida). Mesmo pra mim, que sou
minimamente habituada com atividades físicas, não dá nem pra imaginar fazer UMA
dessas coisas... metade da natação eu já fiz em piscina (o que é bem diferente
de águas abertas...), mas em ciclismo e corrida nem mesmo metade consigo
vislumbrar, então admiro quem faça.
Podemos até pensar que ela é uma atleta profissional,
que dedica sua vida a isso, que tem genética favorável, etc, etc... e então a
própria Fernanda nos apresenta a Sister Madonna, uma freira de 77 anos que
começou a correr com 45 e há quase 20 anos participa do Ironman TODOANO! Ela
completa a prova no tempo máximo (10 horas), mas completa. E sabe a mensagem
dessa freira? “Onde estão os seus
sonhos, coloque o seu corpo”. De uma simplicidade extrema, de uma sabedoria
óbvia, mas quantos de nós não precisam ouvir isso para realmente colocar a mão
na massa e fazer o sonho acontecer?
Muitos dos meus sonhos estão num horizonte ondulado com
silhuetas irregulares e aqui está meu corpo. Finalmente. Inicialmente.
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