quarta-feira, 20 de abril de 2011

Iniciação da Clara à natureza


O termo "iniciação" só me veio agora e acho bem mais adequado do que "batizado". Como minha sogra diz, "só o padre que batiza". Mas a Clara foi arrumar uma madrinha rebelde e eu não deixei barato.

Dizem as boas línguas que eu e minha irmã fomos batizadas na beira de uma cachoeira (uma cachoeira muito especial, diga-se de passagem, que fez parte da nossa infância e adolescência...). Quem fez as honras foi nossa avó materna, Guaraciaba, que tratava os filhos e a si com homeopatia. Não, ela não foi a fundadora do movimento hippie!

Enfim, tenho uma gratidão eterna à minha mãe e a todos que participaram da decisão de não nos incluir no "pacote" dos rituais católicos. Decisão totalmente coerente com a realidade em que eles viviam e às crenças que tinham. Talvez por isso, nunca me interessei muito pela religião católica e nunca me senti deslocada nem "em falta" por não fazer parte dessa cultura. Não fui batizada (por um padre), não fiz catecismo, nem crisma, não casei na igreja e fui a pouquíssimas missas (aquelas dos casamentos de amigos católicos!).

Aí me chegam meus queridos cunhados com o lindo convite para que fôssemos padrinhos da Clara! Não tem como não se sentir imensamente lisonjeado com um convite tão especial desses, por mais que não se faça parte do cenário em questão... e detalhe: o convite foi feito na presença da minha sogra, católica convicta. Saia justa, claro.

Não respondi na hora e houve um certo constrangimento no ar, já que todos esperavam abraços e lágrimas... passei o dia "matutando" um discurso que, felizmente, consegui fazer, na presença de todos. Acho que fui delicada; acho que não ofendi ninguém; acho que deixei tudo muito claro. O que eu queria mesmo era fazer o tal batizado "do meu jeito", mas não teve acordo. Então cedi.

E foi muito bom ceder, uma vez que eu já havia colocado todo o meu ponto de vista. Esta é a diferença entre ceder e engolir sapo. Esse sapo eu, definitivamente, não engoli. Só que acabei colocando uma condição, sutil, mas que virou uma condição. Antes do batizado na igreja, iríamos fazer uma viagem juntos. Pronto, foi aí que começou a nossa aventura para o Saco do Mamanguá!

Íamos em dezembro, mas precisamos adiar e acabou ficando para abril. Foi ótimo porque a praia era só nossa, não choveu, fez sol o tempo todo e uma lua cheia fantástica (que trouxe aqueles infernais "porvinhas"!).

O ritual do "batizado" foi meio que inventado na hora, improvisado. Nesse dia, pela manhã, eu perguntei qual era o objetivo do batismo e o Marcelo disse que era como que um passaporte para determinado grupo, geralmente com conotações espirituais. Como eu já aboli essa tendência da minha vida há algum tempo, ficou muito nítido pra mim que aquela viagem toda era a iniciação (por que só fui pensar nessa palavra agora?!) da Clara à natureza! Ao sol, ao sal, à areia, à terra, às folhas, ao vento, à lua, às águas, aos bichos. Não que ela nunca tenha tido contato com essas coisas, mas ali estavam todos os elementos juntos, com mínimas interferências humanas, o suficiente para assegurar nosso conforto, o suficiente para que ela se sentisse acolhida e tivesse vontade de voltar.

Fomos para a praia ao entardecer, a lua nascendo. As estrelas foram aparecendo. A Clara um pouco inquieta, talvez por causa dos "porvinha". Mas faz parte... isso é realidade. O "grande lance" do contato com a natureza é saber desfrutar da paisagem e interagir com ela, independente da temperatura (muito frio, muito calor), dos bichos (eles estão no lugar deles), das distâncias (quanto mais longe, mais puro). Minhas experiências sempre valeram a pena e é isso que desejo para a Clara! Desejo de madrinha: que você transite com desenvoltura e integração pelos ambientes naturais, pois é lá onde você deve buscar (e certamente encontrará) a sua essência.

Embora não tenha sido planejado, o batizado de uma mulher sob a lua cheia também é bastante simbólico. Havia o resplendor da lua, símbolo máximo do feminino; estávamos cercados de muita água, também símbolo do feminino; pairando no ar uma introspecção com poucas (e boas) pessoas, sem energia elétrica, os cães quietos em volta. Uma vela trazia o fogo, indicando a presença do masculino, junto com o pai e o padrinho. Lindo, forte, simples.

Bem, eu até ia fazer um relato de viagem mesmo, com dicas e etc, mas o texto tomou outro rumo! As fotos estão no nosso álbum do Picasa e o contato para alugar as casas é com a Kalinka (mamangua@gmail.com). Sinta-se à vontade para me pedir as "dicas e etc" ;)

Um comentário:

  1. Cá, eu também sou muito feliz por ter sido batizada como você, e me sinto aliviada por não ter que dizer coisas do tipo "Ah, eu sou batizada na igreja mas não sigo a religião"

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