segunda-feira, 1 de março de 2010

Declaração para a Clara - por Carolina Mendes

É com muita alegria que recebo mais um texto para publicar aqui no Aralume! É sobre um assunto cada vez mais recorrente na minha vida, que até já foi tema de outra postagem (procura lá nos arquivos, rs...), mas nada como ter a visão do "outro lado"! E lado, nesse caso, não se refere a você lá e eu aqui, mas à linha que separa quem já viveu (ou está vivendo) de quem só imagina como é. Se você já viveu, reviva; se está vivendo, conte como está sendo; e se não viveu, bem, vá completando sua listinha de prós e contras e quem sabe uma hora você resolva fazer o balanço para ver se vai viver ou não!

Como conheci a Carol
Foi na Ilha Anchieta, em Ubatuba, por conta de um estágio de férias. Eu já estava lá, descalça e descabelada, torrando agradavelmente ao sol, quando eis que surgem as novas integrantes da equipe: Carol e sua prima Pollyana, ambas estudantes de turismo e ambas arrastando malas de rodinhas em plena Ilha. Pensei: "meu deus, quem traz mala de rodinha pra praia?!". Mal sabia eu que aquela "pseudo-patricinha" (depois eu vi que era bem pseudo, rs...), viria a ser minha cunhada e - mais "grave" ainda - minha grande amiga, uma pessoa que eu admiro muito, que me dá lindos exemplos de generosidade, compreensão, integridade... uma companheira nos desabafos sobre a vida e a humanidade, uma aliada para encarar com otimismo e esperança o que ainda está por vir. E que venha!

Como conheci a Carol
Eu era uma outra pessoa. Eu mudei (e continuo mudando tanto). Foi na Ilha Anchieta, cheguei de mala de rodinha e cinta na barriga (tinha passado por uma lipo há pouco tempo) para passar um mês trabalhando em um programa de estágio. A Carol me olhou torto, mas aos poucos a gente foi se aproximando. Depois disso levei meu irmão numa festa e lá a Carol virou minha cunhada. Ao longo desses anos virou uma grande amiga.


Declaração para a Clara

Avisos importantes: Há algum tempo eu estou monotemática e esse será um texto feminino, não no sentido de que seja um texto só para mulheres, mas ele celebra o feminino e trata da experiência mais fantástica que eu já vivi na minha vida – estou grávida, sou mãe, no meu ventre há um pequeno ser que se forma, que baila e que me encanta diariamente. Esse texto é para Clara, minha filha, minha primeira declaração de amor pública pra ela.

Fiquei grávida de surpresa e minha primeira reação foi de medo, uma insegurança brutal. Como ia ficar o meu corpo, a minha vida, a minha relação com o homem que eu amo, com as minhas amigas, a vida profissional? Não tive uma daquelas reações lindas de novela de comemoração, eu chorei durante dois dias, até que dentro de mim as coisas foram ficando mais calmas.

Algumas coisas me ajudaram nesse processo, a alegria e o companheirismo do Marcelo (um homem realmente admirável, que alegria poder dizer isso do pai da minha filha), a fala de uma amiga que viveu a mesma situação – “Os nove meses preparam o bebê e você”, a força e a beleza do movimento de humanização do parto e uma rede de mulheres espetaculares, o grupo Materna.

Minha primeira decisão quando eu soube que estava grávida foi a de parir. Parir mesmo, sentir dor durante horas, viver as contrações, deixar minha filha sair no momento dela e pelo lugar por onde ela entrou. Eu já sabia que seria difícil, mas não tinha idéia da complexidade que é desafiar os procedimentos médicos adotados como “normais e seguros”.

Ninguém mais confia no corpo de uma mulher, na natureza das coisas, na força da vida e desse ser que quer vir ao mundo. Fazem a gente pensar que não damos conta, que é muito perigoso, e que o bebê gerado por esse corpo, não se adapta, não encaixa, não cabe e tantas outras coisas. O outro grande obstáculo é a dor . A maioria das pessoas acha que eu tenho algo de muito errado por querer viver a dor do parto. Pra que se existe anestesia? Que medo é esse de sentir dor?
A dor do parto não é uma dor de doença ou de algo errado, mas sim uma dor de processo e de transformação. E eu acho um enorme privilégio viver o parto, assim como acho arrebatador ver meu corpo se transformando enquanto prepara uma nova vida.

Tenho descoberto no meio de tudo isso a força e a beleza do meu corpo de mulher, tenho aprendido a confiar mais nele e a perceber uma perfeição e um equilíbrio que as neuras de uma sociedade moderna e doente haviam confundido.

Descobri também a solidariedade de grupos que se juntam e que lutam por uma causa, e que há muita gente reinventando, resgatando e se ajudando nessa cidade maluca que é São Paulo, seja doando coisas, repassando conhecimentos e dicas, ou simplesmente acolhendo dúvidas e questionamentos.

Quando eu soube que seria mãe de uma menina eu vivi um surto de felicidade inexplicável, meu corpo inteiro celebrava. Eu tenho a sorte de ter mulheres na minha vida que me enchem de alegria e orgulho, tenho profundo amor e admiração por muitas mulheres e isso desde já alimenta minha relação com a minha filha. Desejo que a Clara viva a beleza e a complexidade da existência feminina e que seu sentimento seja de amor e de profunda gratidão pela vida, algo como eu sinto agora.

Algumas notas:
Amo homens também, amo bichos, e expressarei esses amores em outras oportunidades.
Achei durante muito tempo que ter filhos era um ato egoísta. Hoje entendo a frase de um grande amigo: “Filhos renovam e reforçam nosso compromisso com o mundo".
Pra quem se interessou e quer saber mais sobre a humanização do parto, aqui vai:
http://www.maternidadeativa.org.br/
http://www.partodoprincipio.org.br/
http://nascendolia.blogspot.com/
http://partodochico.blogspot.com/
http://mamaeantenada.blogspot.com/

4 comentários:

  1. Carol, adorei o texto! E no maior estilo "Aralume", vem até com sites pra quem quiser "ir além"! Obrigada pela participação, o mundo está precisando muito de militância nessa área.

    Embora a minha listinha de prós e contras da maternidade ainda não esteja a ponto de ser fechada, compartilho cada vez mais com essa visão de que o parto tem que ser uma coisa natural, assim como tudo na vida (e sei que essa harmonia com a natureza não é tão fácil). Mas em se tratando de parto, poxa, é um ponto fundamental da existência... não vale o esforço?!

    Ok, não tenho lá muita bagagem pra falar sobre isso. Mas fica o recado - pra não dizer apelo - às mulheres, para que se conheçam, por dentro e por fora, para que se valorizem, para que confiem na dádiva a nós concedida de simplesmente... gerar a vida! (eita nóis!).

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  2. Pra variar, tô chorando.... Te amo Doida! Te amo Cázinha! Viva o Aralume!

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  3. Florzinha, que emoção conhecer um pouco mais de suas idéias, seus sentimentos com relação a ser mulher, ser mãe, ao parto, à sua filha, enfim, ao amor,à vida. Sinto muita gratidão por ter pessoas maravilhosas como você na minha vida!

    Dias atrás eu estava querendo te ver, acompanhar um pouquinho o crescimento da Clara. Já estou preparada para me contentar com algumas fotos!...

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  4. Que lindo o texto, Fofura! Vc é uma mulher admirável, que me ensina muito a cada dia... É um privilégio ter vc por perto em momentos tão especiais como esse da maternidade! Estou emocionada com tudo o que escreveu... Amo vc! Cami

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