terça-feira, 17 de novembro de 2009

Saudade

O Paulinho da Viola, no documentário sobre sua vida "Meu Tempo é Hoje", diz que não sente saudade. Mesmo assim, ele tem uma música linda que fala da saudade, na verdade, Pra Fugir da Saudade. Talvez ele tenha conseguido:
Saudade
Você fez da minha vida
Uma rua sem saída
Por onde andou minha solidão
E hoje
Quando tudo é esquecimento
Uma flor sobrevive ao tempo
E se desfolha em meu coração
Para aliviar o meu sofrimento

Rompe em silêncio meu canto de felicidade
Dentro de um samba eu desfaço o que ela me fez
Quero abrigar, no entanto
Mais uma flor que renasce
Para fugir da saudade e sorrir outra vez

Eu não consigo fugir da saudade. Nem quero... não acho que sentir saudade seja assim tão ruim. Mas pesquisando um pouco sobre o assunto, nos meus queridos Google e Wikipédia, descobri que o que sinto é um pouco mais sério. O que eu sinto é nostalgia. Veja só a "gravidade" da coisa:

"Nostalgia é um sentimento que surge a partir da sensação de não poder mais reviver certos momentos da vida. O interessante sobre a nostalgia é que ela aumenta ao entrar em contato com sua causa e não diminui como o sentimento da saudade. Exemplo: se alguém sente saudades de um conhecido, este sentimento cessa ao se reencontrar a pessoa; com a nostalgia é exatamente o oposto, ao reencontrar um amigo que gostava de brincar, este sentimento nostálgico irá se alimentar, e não diminuir como a saudade."

Com essa definição simples não preciso de mais nada para o diagnóstico. E é interessante notar que esse sentimento é geralmente deflagrado por músicas e cheiros - no meu caso. Ontem mesmo, ouvindo o disco "Circuladô", do Caetano (o vinilzão mesmo, que aumenta mais ainda a nostalgia, rs...), um turbilhão de imagens e sentimentos me veio à mente, de quando eu era pequena - o disco é de 1991 e eu tinha 10 aninhos... Minha mãe cantando, no sítio, eu e minha irmã brincando na terra, subindo nas árvores, esporadicamente o carro atolado e a gente cantando dentro!

Um lembrança puxa outra e, lembrando do sítio, vem de uma vez só um resumo da minha vida, que teve muitos dos seus momentos importantes vividos naquele lugar (mãe, não chora!). Haja nostalgia!

Enfim, música traz instantaneamente lembranças muito especiais. Eu não sei se com todo mundo é assim, mas eu geralmente quando "descubro" um disco, ouço até quase a exaustão, depois descubro outro e assim vai indo, de forma que aquele período fica bem marcado pela "trilha sonora".

Por exemplo, o "Fuá na Casa de Cabral", do Mestre Ambrósio, me lembra muito o estágio que fiz em Botucatu, com Assentamentos Rurais. Esse foi meu primeiro estágio na faculdade, e deve dar pra imaginar a quantidade de sensações que isso me trás. Mas o Mestre Ambrósio marcou toda uma época, pois seus três discos são realmente apaixonantes.

Da época que conheci o Paulo Cesar, o disco "Tábua de Esmeralda", do Jorge Ben, é um dos grandes ícones, junto com o sugestivo "Transa", do Caetano. E depois disso ele deu uma boa bagunçada nos meus registros musicais, porque um novo mundo se abriu, com milhares e milhares de músicas e novos artistas!

Mas o "Ventura", do Los Hermanos, marcou um certo verão Piracicabano, quando eu fui no primeiro show da banda e vi que eles eram muito mais do que "Ana Júlia", rs... teve também o primeiro álbum da Maria Rita, que leva seu nome, e traz lembranças de uma fase um tanto quanto turbulenta... "de repente cai o nível, e eu me sinto uma imbecíl".

E por aí vai... com relação aos cheiros, é muito engraçado, pois eu não sou de usar perfume, mas gosto de variar os cremes hidratantes, e quando eu retorno pra algum que usei há mais tempo, as memórias também são instantâneas, e lá vem a nostalgia!

Eu não vejo problema nisso, muito pelo contrário, até gosto! Eu fico feliz quando essas lembranças vem, pois me sinto viva. Reviver essas sensações me lembra o quanto fui (e sou) feliz, lembra também o quanto já consegui superar de coisas difíceis na vida, e isso me traz força para encarar as novas dificuldades - às vezes, inclusive, mostrando que algumas dificuldades presentes nem são assim tão grandes...

Sei que não corro o risco de "viver do passado", pois desde que me entendo por gente carrego comigo essa nostalgia, e ela não se restringe a um tempo específico, mas a todos os momentos da vida. Por isso tenho certeza que daqui a uns anos vou lembrar com carinho dos "tempo de Itu". Então agora vou escolher uma boa trilha sonora, tomar um banho e usar aquele hidratante novo! ;)

2 comentários:

  1. Como assim, "mãe, não chora"!!?? Choro, sim, com muito gosto, lendo e relendo coisas que você escreve, como essa!
    Sobre saudade e nostalgia a gente já conversou um pouco, mas é um assunto bom demais, que mexe com todo o nosso humano ser.

    E essa vocação para escritora,hein?Vejo que você escreve com muito prazer, pense nisso. Sabe que está no sangue, através das linhagens de pai e mãe!!!
    Como é bom enxergar nossos filhos como nossos filhos, netos de nossos pais, bisnetos de nossos avós, tataranetos de nossos bisavós................."até onde essa estrada do tempo vai dar" ?....
    Beijo, filha, te amo!

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  2. E como eu sei que chora, rs... Claro que "penso nisso" - sobre escrever - e é por isso que o Aralume existe! Alguma habilidade interessante eu haveria de herdar...

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