terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Guardador de Rebanhos - parte VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Esconde o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Fernando Pessoa/Alberto Caieiro

Hoje comecei meu dia na horta da Sempre Viva e a inspiração campestre foi inevitável!

Aos que vivem nas cidades - a meu ver, um mal necessário - se quiserem usufruir um pouco de um horizonte vasto, e de quebra se envolver em atividades rurais agroecológicas, dêem uma olhada na World Wide Opportunities on Organic Farms (www.wwoof.org). Tem muitos lugares interessantíssimos, nos mais variados raios de distâncias!

3 comentários:

  1. O meu olhar é nítido como um girassol
    por Alberto Caeiro – heterônimo de Fernando Pessoa


    O meu olhar é nítido como um girassol,
    Tenho o costume de andar pelas estradas
    Olhando para a direita e a esquerda
    E de vez em quando olhando para trás...

    E o que vejo a cada momento
    É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
    Sei Ter o pasmo essencial que tem uma criança
    Se ao nascer, reparasse que nasceras deveras...

    Sinto-me nascido a cada momento
    Para a eterna novidade do Mundo

    Creio no mundo como um malmequer
    Porque o vejo, mas não penso nele
    Porque pensar é não compreender

    O mundo não se fez para pensarmos nele
    (Pensar é estar doente dos olhos)
    Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

    Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
    Se falo na natureza não é porque a amo, amo-a por isso,
    Porque quem ama nunca sabe o que ama.
    Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
    Amar é a eterna inocência
    E a única inocência é não pensar.


    Flor, mais Fernando Pessoa para vc, que merece tanto!
    beijos

    ResponderExcluir
  2. Obrigada Carol! Isso é pura meditação, no sentido mais profundo do termo. "Pensar é não compreender". Tenho aprendido que a verdadeira consicência está além do "pensar", está em deixar um pouco de lado a mente e suas inquietações, para fazer fluir um outro canal, mais sutil e mais eficiente.

    É uma longa caminhada e uma meta ousada, mas o caminhar é agradável e é possível perceber que nosso olhar vai se tornando "nítido como um girassol"!

    ResponderExcluir
  3. Gostaria também de contribuir em Pessoa...

    Acesse lá:

    http://florestasempreviva.blogspot.com/2007/07/eu-em-pessoa.html

    ResponderExcluir