domingo, 16 de julho de 2017

DaLamaAoCaos DoCaosAoCosmos

Faz cinco anos que sou mãe em período integral, com dedicação exclusiva, intensa e intensiva - se fui redundante é essa mesmo a intenção! Quando o primeiro filho estava ganhando alguma autonomia, veio o segundo, do jeitinho que planejamos. E aqui estou, em pleno puerpério, amamentando um bebê de 7 meses que adora acordar de duas em duas horas nas madrugadas. Tem sido bem cansativo!

Por mais que eu saiba que o cansaço inicial passa, às vezes me sinto numa prisão, me sinto amarrada, me sinto carregando um peso sem poder deixá-lo. Sim, eu que escolhi amamentar em livre demanda; eu que escolhi não oferecer mamadeira. E não vou abrir mão dessa escolha, ainda mais agora "que falta tão pouco". Mas que cansa, cansa.

E pra descansar, arquitetei um plano! Me inscrevi na Residência em Artes Visuais do Festival Arte Serrinha, que acontece aqui em Bragança todo mês de julho há 16 anos! É um festival lindo, num lugar muito especial, a Fazenda Serrinha. Nas mesmas datas da residência aconteceu também o ateliê infantil, onde poderia deixar o mais velho. Tratei logo de convidar sobrinhos e sogra, irmã e irmão, amigas e amigo. Montei uma rede que me permitisse deixar os filhos e respirar um pouco de ar(te).

E lá fui eu me infiltrar no meio dos artistas. Academicamente nunca fui artista e fiquei um tanto insegura, mas logo me lembrei do tema do festival (cada ano tem um tema): DE QUEM É ESSA TERRA? e tudo se encaixou... de quem é essa terra de artistas? De quem é esse título de artista?

O formato da residência foi o seguinte: cada um iria desenvolver um projeto pessoal em artes visuais. Como tenho me envolvido cada vez mais com o mundo dos fios, das tramas, dos tricôs e dos crochês, meu projeto foi com Yarn Bombing! Peguei meu material e fui pro ateliê, sem saber direito o que faria. Apesar da oficina ser um pretexto pra eu ter um descanso, eu queria muito fazer alguma coisa, ter a sensação de algo construído e concluído. De início fiquei com medo de não conseguir, os filhos não estavam tão independentes quanto eu gostaria... pensei então em fazer algo singelo, simbólico, uma montagem na parede, meio que "só pra constar". Mas algo em mim queria fazer algo "de verdade" e desde o início eu queria alguma interação com a natureza.

No dia seguinte comentei com a Ana, minha irmã, artista não acadêmica, mas muito artista. Falei que tinha pensado num lugar X e logo emendei "mas ali é um brejo". Ela prontamente respondeu "e daí?!". Verdade, e daí?! Como se eu nunca tivesse entrado num brejo!!! Não parece, mas eu já fui mais engenheira florestal do que mãe! Já andei por cada lugar que nem te conto... o que seria um brejo?!

Então, dia 2, lá fui eu pro brejo. Galochas e um cajado. Devagar. Afundando lentamente. Ouvindo com prazer e nostalgia os sons do mato e da água. Ali naquele brejo me encontrei com uma versão de mim que achei até que nem existisse mais... mas ela estava ali, me aguardando. Me sorriu, me deu as boas vindas e me pegou pela mão.

Nesse dia a intenção era só reconhecer o terreno, mas quis fincar uma bandeira, marcar território. Espetei na lama uma flor de lã que eu já tinha pronta e que "por acaso" era exatamente da mesma cor dos limões cravo vizinhos ao local que eu tinha escolhido! Convidei então o limoeiro pra fazer parte da minha instalação... ou teria sido ele que havia me convidado?!



Dia 3. A repercussão da minha flor foi enorme!
"Como você entrou ali?!"

Levei outros elementos, conversei com os artistas orientadores, tive ideias, ouvi ideias.

Dia 4. Filhos cansados, produzi pouco, mas avancei.


Dia 5, o grande dia, o último dia! Filho mais velho com o pai, nenê com a vó. Amiga artesã, amigo mateiro. Consegui! Conseguimos!



Usei alguns elementos que eu já tinha prontos, os pompons e as estrelas, e outros confeccionei rapidinho, com ajuda até da sobrinha de 7 anos que é aluna Waldorf e sabe fazer tricô de dedo!

Curiosidade, que só me dei conta depois do trabalho feito: as estrelas eu fiz nas últimas semanas de gravidez e com parte delas eu montei um enfeite que ficou comigo durante todo o trabalho de parto do Jorge, enfeitando o quarto da maternidade e depois a porta do quarto dos meninos, junto com uma bandeirinha com os dizeres "Do Caos Ao Cosmos" (sim, daí que vem o nome da obra, junto com a música co Chico Science que cantarolei o tempo todo, rs...). Com a outra parte das estrelas e mais uns pompons, fiz um enfeite pro bercinho dele. Na mudança de casa e depois quando desmontamos o berço foi tudo pra minha caixa de crochês... e de lá pro brejo!




A "obra" não foi planejada... foi surgindo e foi se apresentando em sua lógica e em seus conceitos. Nasceu na fertilidade da lama, fluiu com as águas do brejo, dança com o vento suave que passa entre as árvores... e me lembra que assim deve ser a vida, assim deve ser a criação dos filhos... afinal, não são eles a minha maior obra de arte?!




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