quinta-feira, 26 de maio de 2016

Aos fracassados e perdedores em geral

Essa semana, após uma desilusão amorosa (explico no final), fiz um desabafo no facebook onde pedi:

"Conte-me dos seus fracassos
Quero saber daqueles projetos incríveis que nunca saíram do papel (ou da cabeça...)
Ou então aqueles que foram pra prática, mas deram um prejuízo enorme
Ou foram um fiasco
To meio cansada de ´cases de sucesso´ "

A postagem fez um relativo sucesso e os comentários me ajudaram muito a colocar em perspectiva essa dualidade sucesso x fracasso.

Primeiro que já venho aprendendo há um tempo que a dualidade é ilusória e um caminho para o sofrimento. As coisas são o que são. Quando tentamos compará-las criamos dualidades. E nem ao menos nos damos conta de que as comparações são impossíveis! Em matéria de natureza humana, ou melhor, em matéria de Vida, nada é comparável. Cada ser é único. E cada um de nós é único em seu momento, ou seja, mesmo a comparação de nós com nós mesmos (como eu era, como eu quero ser), é absolutamente sem sentido.

Então se deixarmos de lado as comparações, o que é sucesso? O que é fracasso? Sucesso seria um estado de alegria e bem estar, enquanto que qualquer outro seria fracasso? Pois vou contar outra coisa que tenho aprendido: assim como os sabores doce, azedo, salgado, amargo, são naturais e cada um tem suas particularidades, os estados de espírito, os sentimentos, também são naturais e cada um tem seu momento. Alegria, tristeza, medo, raiva. Fazem parte da natureza, fazem parte de nós.

Antes de prosseguir, mais um aprendizado básico de como a Vida funciona: a Vida é impermanente. Como sabiamente dizia minha avó, "não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe". Ao conhecer essa Lei básica da Vida, paramos de nos cobrar estabilidade e nos possibilitamos viver os fluxos naturais, a corredeira da Vida, que contorna pedras, mas que também as fura; que salta abismos e que se aquieta em remansos.

Sendo assim, não faz sentido querer um estado permanente de alegria. Na verdade, quanto mais queremos a tal da alegria, enquanto estado único e estável, mais nos damos conta de que isso não é possível e assim acabamos por vivenciar tristeza, medo, raiva...

E então outro conhecimento básico de como a Vida funciona (estou quase montando uma enciclopédia!): o veneno pode ser seu próprio antídoto! A tristeza vai nos dizer o que há pra ser vivido na tristeza; o medo vai nos dizer o que há pra ser vivido no medo; e a raiva vai nos dizer o que há pra ser vivido na raiva. Precisa só de um pouco de consciência, um pouco de auto-observação.

Mas a tristeza, a raiva e o medo não aparecem só quando forçamos a barra pra manter a alegria. Eles VÃO aparecer, por mais que você faça "tudo certinho" em matéria de saber viver. É como as estações do ano, é como os ciclos de nascimento-vida-morte, é fisiológico. Não sei se (oh, algo que não sei!) há uma ciclicidade na alternância dos sentimentos. Não sei se existem ciclos gerais (gerações, culturas, posição social, gênero?) ou ciclos pessoais, mas desconfio que existam todos e que esse entrelaçamento resulte em algo tão complexo que não vale nem a pena tentar entender e prever. Melhor sentir.

Enfim, tudo isso pra dizer que ao ler cada comentário dos fracassados assumidos que atenderam meu chamado, eu ia pensando o quanto cada uma daquelas pessoas era especial, o quanto tinham superado seus fracassos, ou o quanto talvez estivessem sofrendo desnecessariamente por eles (pretensão minha, mas pensei); eu ia sentindo uma vontade tão grande de conversar com cada uma delas, de ouvi-las, de dar meus conselhos (mais uma pretensão, rs...) e oferecer meu ombro amigo.

E aí me vi em todas aquelas pessoas e fui percebendo como sou especial (todos somos!!!), como já superei tantos "fracassos", como sofri e sofro "desnecessariamente" por eles. E conversei comigo mesma, me ouvi, me dei uns conselhos e me confortei.

Contar tudo isso é uma forma de agradecer a todos que conseguem abrir seus corações, baixar as guardas e ajudar a construir relações mais verdadeiras, mais humanas, mais Vivas.



* sobre a tal "desilusão amorosa", refere-se a um grupo que venho tentando arrebanhar aqui em Bragança, um sonho comunitário, uma vontade de construir junto novas formas de viver, de cuidar dos filhos, de cuidar uns dos outros. As coisas não tem acontecido como eu queria e isso é um sinal clássico de fracasso, rs... chateia um pouco, mas só enquanto estou na ilusão das dualidades, dos ideais, dos egoísmos. Quando entro em contato com uma consciência mais ampliada, com a auto-observação, consigo enxergar a maravilha de tudo! Se você que está lendo é uma das pessoas que esteve ou está comigo, não se preocupe. Tudo é lindo, tudo é perfeito. MESMO!







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