terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

E viveram felizes para sempre!

Esse fim de semana foi casamenteiro: fui a um na sexta e outro no sábado. Além disso, o meu aniversário de casamento se aproxima e o assunto está bem em pauta!

Os dois casamentos que fui foram bem diferentes um do outro e ambos bem diferentes do meu, mas em todos eles tinha uma atmosfera de muita alegria, que faz bem, revigora e dá esperança.

O casamento da sexta foi do Felipe com a Nathana. O Fê é meu colega de yôga em Itu e a galera do SwáSthya compareceu em peso! A cerimônia religiosa foi nos moldes tradicionais, católica, com direito a marcha nupcial tocada ao vivo, muito bonito. Mas o que mais gostei foi do beijo (aquela hora que o padre fala: “Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva”), foi um beijo de verdade, com paixão – e línguas! Afinal, acho que não dá pra dar um beijo com paixão, sem línguas! E o legal é que depois do beijo o padre deu uma cutucada: “quero ver esse mesmo entusiasmo daqui a dez anos!”. Ele falou num tom alegre, sem repreensão, desejando de fato que o casal mantenha acesa essa chama ao longo dos anos.

O casamento do sábado foi do Vítor com a Cami, que são aqueles amigos de amigos que acabam ficando também amigos. A cerimônia religiosa deles foi budista e eu nunca tinha participado de uma. Fiquei encantada! Quem celebrou foi uma Lama – outra coisa diferente, pois eu também nunca tinha visto uma mulher celebrar um casamento.

E é por causa dessa novidade toda que esse segundo casório vai ganhar algumas linhas a mais aqui no Aralume (e também a ilustração), pois, como já disse, o que era realmente importante – amor, alegria, felicidade – estava presente nos dois.

O budismo é uma religião bastante diferente e especial. Não conheço muito bem nenhuma religião, mas se eu fosse optar por alguma, certamente seria essa (esse papo de optar por uma religião fica pra outra hora, rs...). Mas, enfim, o que me cativou na cerimônia budista foi que a Lama começou o “discurso” falando da impermanência da vida. Em uma situação onde comumente se enaltece o amor eterno, o “para sempre”, a fala dela foi exatamente na via oposta.

Vou tentar colocar aqui as idéias principais... a primeira é que estamos nesse mundo “de passagem”, que a vida é curta, que tudo é mutável e o que realmente importa é o dia de hoje. Esse é o dia mais importante. E uma vez conscientes disso, o que devemos fazer é aproveitar ao máximo esse dia. Nesse ponto ela disse “eu não sei por quanto tempo vocês vão ficar juntos, isso não importa, o que importa é viver plenamente o dia de hoje”. Isso chamou muito a minha atenção, porque o foco aqui não é fazer com que o jovem casal se comprometa com promessas que eles não sabem se vão conseguir cumprir. Aliás, o casal não abre a boca, não jura nada, não declara nada. Eles simplesmente recebem os ensinamentos e homenageiam silenciosamente seus pais e padrinhos.

A Lama também frisou a importância de identificar o verdadeiro amor, que é um sentimento de dentro pra fora, e não aquela necessidade de ser amado, ser correspondido. Amar verdadeiramente é enxergar que cada ser tem uma essência muito especial, que merece ser amada. Amar verdadeiramente é desejar a felicidade da pessoa amada, e fazer com que ela aconteça.

Quando exercitamos esse sentimento, o verdadeiro amor, todos à nossa volta se beneficiam, todos sentem essa emanação positiva. E isso enche de satisfação, completa, nutre. Do que mais você precisa?

Agora divagações minhas, inspiradas nas vivências: talvez a grande sabedoria esteja em conseguir estabelecer o que realmente importa. Dado que essa vida é passageira, curta e que daqui nada se leva (isso a Lama disse também), o que realmente importa?
Eu me pergunto muito “Eu preciso disso?”, “Pra quê?”. Praticar o desapego e, ainda assim, viver em sociedade, não é fácil. Eu considero que a vida em sociedade seja importante, o ser humano é um animal social, gosta de viver em bando, precisa viver em bando.

Mas esse turbilhão que é a vida em sociedade faz com que a gente se afaste muito facilmente do que realmente importa. É preciso estar muito atento. É preciso cuidar das relações, não só da de casal, mas das relações entre amigos, entre família, entre vizinhos (?!), entre colegas. Na verdade, segundo a Lama, praticar o amor independe de “com quem”. Quem ama, ama e pronto! Claro que não é assim tão fácil, pois tem muitas pessoas e situações que realmente nos tiram do sério. Faz parte da caminhada. Para ilustrar um pouco isso, encerro com uma frase de Patañjali, o codificador do Yôga Clássico:

"A serenidade da consciência é obtida mediante o cultivo da amizade, compaixão, alegria e indiferença, respectivamente aos que são felizes, infelizes, bons e maus".

3 comentários:

  1. Lindo o texto, Carol! Vc conseguiu transmitir a essência do ensinamento da Lama Tsering... Me emocionei muito ao ler e relembrar os momentos do casamento... As palavras da Lama e os amigos/familiares ao nosso lado emanando muita energia e amor nos fizeram sentir algo inexplicável! Isso vai ficar pra sempre em nossa memória e nos nossos corações. Bjos com carinho!

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  2. Oi Cami! Que bom que você gostou do texto; que bom que eu entendi tudo direitinho, hehe... é muito bom ter essas "gotas de esperança"! Boa viagem de lua de mel!!!

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  3. Nossa, que bonito! Adorei seu texto, e esse casamento budista (na hora fiquei pensando que nem sabia que existia casamento budista, no sentido de cerimônia). Também simpatizo enormemente com o Budismo, por duas razões: 1) antes de ser religião é filosofia de vida; 2) os 'seguidores' seguem e pronto! não enchem o saco de ninguém tentando 'conversões'. Aliás, vc já leu o "zen e a arte da manutenção de motocicletas" ? clássico de antigamente (li junto com o "Walden", do Thoreau, 1000 e tantos anos atrás) e tem algo em comum com o que vc falou ...
    Ah, sim, vou atender sua 'intimação' de escrita, faço questão. Teria sido nessa semana que passou, se ela não tivesse se transformado num turbilhão com cara de episódio do House .. rs Beijos! bom carnaval, seja onde for!
    E parabéns aos noivos, tanto os recém-casados como os que já estão na estrada há um ano .. felicidades sempre!

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