terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Eu também vou reclamar!

Antes de mais nada, alguns esclarecimentos:

1. O conteúdo "rebelde" dessa postagem nada tem a ver com TPM;
2. Tampouco trata-se de um rompante explosivo de momento, pois venho "digerindo" esse assunto há alguns dias;
3. Apesar de estar amparada por atitudes centradas e racionais, não usarei de sutilezas e meias palavras... na verdade, quero abusar das palavras, letra a letra!

Ok, a essa altura você se pergunta: "afinal, o que está pegando!?"

Está pegando no meu calo. E o meu calo são as tão faladas, batidas e negligenciadas "questões ambientais". Cresci lendo "50 pequenas coisas que você pode fazer para salvar a Terra"; minha mãe fez parte do Grupo ECO e bem antes da Rio 92 eu já sabia o que era reciclagem; estudei Engenharia Florestal e desde o meu primeiro mês na faculdade me envolvi bastante com as "questões ambientais"; após concluir a graduação fiz mestrado em Recursos Florestais que, embora não tenha sido foco principal, também ampliou meu conhecimento, reflexão e prática nas "questões ambientais"; assim que acabei o mestrado, trabalhei na Fundação SOS Mata Atlântica, principal ONG ambientalista do Brasil; saindo da SOS Mata Atlântica, me envolvi com a produção de alimentos orgânicos, e pude conhecer um pouco mais de perto os bastidores da agroindústria... agora trabalho como profissional autônoma prestando consultoria em "questões ambientais".

Pra quem me conhece, nada do que disse acima é novidade, mas eu quis trazer esse breve currículo só pra lembrar que não se trata de "conversa de botequim". Não sou PhD no assunto, mas se tem algum tópico que eu posso falar com desenvoltura e algum aprofundamento, é justamente esse: as "questões ambientais".

Que o mundo está passando por sérias mudanças, não é novidade pra ninguém. Que o mundo parece estar de ponta cabeça, também acho que faz tempo que deu pra perceber. Mas às vezes eu flutuo em uma nuvem de otimismo e deixo isso um pouco de lado, afinal, não sou eu que vou salvar o mundo... só que não demora pra alguma sandice me derrubar com a cara no chão. Dessa vez, o início da minha revolta foi com uma propaganda imbecil da nova Sandália da Xuxa.

Você deve estar pensando: "ah, mas você vai esperar algo justo da Xuxa?!". Pois é, não é de se esperar mesmo... na verdade é pra esperar sim, o pior. Mas dessa vez ela pisou no meu calo! A propaganda começa com a tal criatura falando "vem que tá na hora de cuidar da natureza!". E eu: "opa, vamos ver no que vai dar...". Em seguida crianças brincam num cenário de natureza virtual e toca uma musiquinha infame. Ah, sim, a sandália. É de plástico!!! E vem com um relógio do boto rosa!!! Isso é cuidar da natureza?! Se você não viu, gaste 30 segundos e assista: http://www.youtube.com/watch?v=5-k-whzkqcQ Tem horas que a gente precisa de uma dose de revolta pra romper a inércia...

Isso até ia passar despercebido pelo Aralume, mas há uns dias tem outra coisa, muito pior, que vem me incomodando e hoje chegou ao extremo! São as propagandas veiculadas pela Conservation International, uma grande e respeitada ONG ambientalista norte americana. Eu tenho visto essas propagandas no canal Warner, mas no site deles também tem (http://www.conservation.org/).

A primeira que vi foi uma com o Harrison Ford (que depecpção Indy!). É uma cena bizarra, em que ele depila um pedaço do peito (?!), pra dizer que "toda vez que as florestas tropicais são queimadas, dói em nós aqui". O slogan da campanha é "Lost there. Felt here" e o aqui refere-se às pobres pessoas que estão lá na America, coitadas, que sofrem com as mudanças climáticas provocadas pela queima das florestas, que por sua vez são provocadas pelos ignorantes habitantes dos trópicos - nós, diga-se de passagem.

A queima das florestas é sim um assunto sério e importante no cenário global, mas está longe de ser a única razão pelo aquecimento da Terra e todas as suas consequências! O que me revolta é que esses idiotas desses americanos deveriam primeiro limpar a bunda deles, pra depois vir falar que a nossa não está assim tão limpa!

Tem um outro vídeo, super comprido, no qual um dado chamou minha atenção: segundo eles, "a queima das florestas tropicais representa 38% das emissões de CO2, e isso é maior do que as emissões de Estados Unidos e China juntos". Dei um pulo do sofá! Du-vi-de-o-dó. Corri pro Google, meu infalível oráculo, e encontrei uma matéria do Estadão que diz que a China é o maior emissor de carbono do mundo (http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,emissao-de-co2-de-emergentes-tem-de-parar-de-subir-ate-2020,446601,0.htm). Apesar do vídeo ser bem comprido, não são citadas fontes, então eu realmente não sei como eles chegaram a esse dado absurdo (aprendi que a estatística é a arte de torturar os dados até eles dizerem o que você quer :D). Enfim, é complicado aferir com precisão essas emissões, mas voltamos à questão anterior: será que o que vai resolver o problema é ficar jogando a "batata quente" pro colo do outro?! É tão difícil assim olhar no espelho?!

E hoje assisti o pior de todos: simplesmente é o dono da rede Wal-Mart (que por sinal é vice-presidente da CI), falando do quanto as "questões ambientais" são importantes na sua vida e um monte de blá, blá, blá. No meio dessa bobagem toda, ele solta que "precisamos cuidar dos oceanos, se quisermos ter peixe para comer no futuro" ?!?! Cacete! Olha a inversão de valores!!! Então o que justifica cuidar dos oceanos é ter peixe pra comer?! Ah, não se preocupe, já existem técnicas muito eficientes de produção de peixe em cativeiro... pode poluir à vontade!

E não é a "bancada ruralista" que tá falando todas essas besteiras, não é o Bush... é uma ONG importante! O mundo deve estar mesmo pra acabar...

Resumo da ópera: a "saída" - se é que há uma - não é bem pela porta das "questões ambientais", mas sim pela porta das "questões comportamentais". Como se diz, o buraco é mais embaixo... se o mundo está aquecendo, você tem culpa nessa história; eu tenho culpa nessa história. O problema não está ; o problema está aqui: está no meu carro, está no meu lixo, está no meu cocô, está nas coisas que eu compro, está nas coisas que eu como, está nas pessoas que me representam (e que, por sinal, eu que elejo). Enquanto cada um não interiorizar isso, não adianta ficar falando que os americanos são uns porcos e que a extração de madeira na Amazônia é um absurdo (paulista adora colocar a culpa nisso também...). Se a maior floresta tropical do mundo está diminuido, olhe pro telhado da sua casa e com certeza você encontrará um pedaço dela.

Se tem algo de bom nessas campanhas da CI é que eles enfatizam o quanto estamos conectados e o quanto as ações tem consequências globais, num curtíssimo espaço de tempo. Só que posto isso, o que cada um deve fazer é uma avaliação pessoal de suas atitudes, ao invés de botar o dedo no nariz dos outros ou simplesmente dar uma contribuição financeira para que a instituição assuma essa responsabilidade por você...

Enfim, nas "questões comportamentais" não tenho nenhum currículo formal, mas algumas pistas, algumas peças de um quebra cabeça, que vou jogando por aqui e a gente tenta juntar, incluindo as suas peças também. Pra encerrar a rebeldia - que tem seu valor, mas apenas em pequenas doses - cito o grande líder pacifista hindu, Gandhi:

"Seja a mudança que você quer ver no mundo".

3 comentários:

  1. Gente!!! O comercial da Xuxa é imperdível, quero dizer, inconcebível! (assistindo, pensava em você e não pude deixar de rir muito!)Agora, a sua revolta é bem vinda, bem fundamentada e, o mais importante, coloca diante da gente o verdadeiro foco do drama, as "questões comportamentais" que, por sua vez,a meu ver, são consequência de um buraco que está mais embaixo ainda! Mas vamos em frente, fazendo por onde "ser a mudança...", o que não é pouco... nem fácil!

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  2. Carol, adorei a sua rebeldia! O mundo está precisando muito dessas atitudes rebeldes, as pessoas aceitam tudo com muita facilidade, sem visão crítica.
    Pra falar a verdade, esses blablablas ecológicos mal feitos me irritam tb.
    Como diria o nosso amigo Xyko: "Lazarica menininha!"
    Bjos!!!

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  3. Oi mãe, oi Michele, obrigada pela força! Vamo que vamo...

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